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lunes, 30 de junio de 2014

30/06/2014 - ANGOLA: UM JOVEM FACTURA UM MILHÂO DE DOLARES AO FAZER-SE PASSAR POR FILHO DE MINISTRO

Jovem factura um milhão de dólares ao fazer-se passar por filho de ministromir


Luanda - Quer ganhar dinheiro fácil? Então, faça-se passar por filho de alguém importante. Esse parece ser o princípio pelo qual se estão a guiar muitos jovens na sociedade angolana. Depois do caso de um cidadão auto-identificado como filho do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, surgiu agora um novo caso. Os milhões fraudulentamente embolsados pelo primeiro, inspiraram outros a seguir-lhe o caminho. Desta, foi a vez de um outro jovem, feito passar por filho do malogrado Osvaldo de Jesus Serra Van-Dúnem, ex-ministro do Interior. 
Fonte: A Capital
A identidade de Eduardo dos Santos Van-Dúnem é, afinal, falsa, em conformidade com os resultados das investigações policiais, conducentes à detenção do jovem e à sua apresentação em tribunal, com o julgamento a decorrer actualmente.
Essa identidade facilitou o emprego no Banco de Comércio e Indústria (BCI), de um jovem de 24 anos, cujo nome verdadeiro é Osvaldo Hermano Nicolau Júnior.
As investigações policiais revelaram, por outro lado, a preponderância do emprego no BCI para que o jovem conseguisse “visitar” as contas bancárias de vários clientes da instituição e fazer levantamentos aleatórios na ordem de um milhão de dólares norte-americanos.
No tribunal provincial de Luanda, Osvaldo é julgado justamente por fraude desta quantia elevada, concorrida com falsa identidade, dado o facto de se apresentar, regularmente, com um Bilhete de Identidade falso, em que aparecia como seu progenitor o antigo ministro do Interior.
Estes factos vieram a público depois de uma denúncia apresentada pela direcção do BCI, uma vez confrontada com um volume elevado de saques deste funcionários, de contas de vários clientes, sem a autorização dos mesmos. Calcula-se que pelo menos 50 pessoas foram vítimas dos saques. Uma das lesadas é, justamente, Welwitschia dos Santos, filha do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Os dados colhidos de um relatório policial, acedido pelo semanário A Capital, revelam que o jovem entrou no Banco, como funcionário, no recuado ano de 2011, depois de uma intensa procura em que, ao contrário de um currículo profissional, usava a sua falsa filiação como argumento principal.
Desde então, passou a pôr em prática um plano macabro, levantando, inicialmente, quantias reduzidas da conta de clientes, procurando, desde modo, evitar a suspeita das vítimas. Em Maio de 2013, o jovem aumentou a intensidade dos seus saques, incluindo, na lista, algumas empresas, sobretudo aquelas que apresentam as suas contas mais “gordas” para delas retirar valores para o seu benefício próprio.
Isso mesmo foi confessado pelo próprio ao ser ouvido em interrogatório por especialistas da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC), tendo ainda explicado como punha em prática as suas acções. Inicialmente, ele usava a sua senha apenas para efectuar consultas de salto. No entanto, quis o destino que o banco fizesse migração no seu sistema o que garantiu ao jovem acesso a contas de clientes, não apenas para consultar, mas também para movimentar. Foi fundamental uma pessoa que ele identificou como “colega Júlio” que “uma vez tentou usar o meu passe para uma transferência e foi bem sucedida”. Desde então, “eu soube que podia fazer”.
Assim citado dos autos, Osvaldo que exercia as funções de gestor de contas colocado no Balcão 4 de Fevereiro, começou a conceber o seu plano quando, em Maio passado, o seu gerente identificado por Júlio pediu que ele fizesse uma transferência de uma natureza para outra da sua própria conta bancária.
Passou, então, a “roubar” dos clientes sem indicação de ninguém. As informações, recolhia-as na altura em que os clientes mandavam pessoas credenciadas ao Banco para solicitarem extractos de movimentos, ou mesmo saldos das contas. Caso a conta fosse choruda, ele não fazia mais senão retirar um determinado valor e transferir para a sua própria, domiciliada num banco concorrente.
Foi assim que Osvaldo movimentou, por exemplo, conta da Welwitschia dos Santos, quando alguém credenciado por ela pediu o extracto, tendo ele se apercebido do valor nela contido e passado posteriormente à acção. “Retirei daquela conta”, confirmou, antes de citar a quantia: 16 milhões de Kwanzas, ou seja, algo como 160 mil dólares norte-americanos, passando-os para a sua própria conta.
Depois, passou um cheque para uma colega sua, identificada como Maria Faustino, fazer o pagamento, algo que não foi avante por, na altura, a jovem não dispor de verbas suficientes. Mandou, então, anular o cheque recorrendo a uma segunda colega, no caso, Hermengarda Ioba, para executar uma transferência da sua conta para outra, em seu nome próprio, domiciliada no Banco Sol.
“Eu tinha autoridade para o fazer. No entanto, essa operação foi retida no mesmo dia com a pronta intervenção da Direcção de Operações (DOP) e nem chegou ao Banco de destino”, disse, reforçando que a colega Hermengarda não teve culpa.
Além dessa operação, Osvaldo fez outras com o mesmo cariz de ilegalidade. De contas de outros clientes acumulou dez milhões de Kwanzas, transferindo-os, gradualmente, para a sua conta pessoal no Banco Sol. No entanto, a Procuradora que acompanha o processo mandou bloquear a conta e transferir os valores nela existentes de volta para o BCI.
Foi seguindo, faseadamente, transferindo dinheiro “da conta dos clientes para a minha conta conjunta com a minha esposa”. Marido da jovem Beatriz Joaquim, Osvaldo alegou que a sua esposa não tinha qualquer conhecimento da existência da conta e que, por esse facto, ela não está envolvida nos seus actos.
Também contou que levantava tais valores com cheques ou autorização de débito nos caixas do Balcão 4 de Fevereiro, pelo que disse não saber se os colegas que faziam os pagamentos pediam ou não autorização competente. A única certeza, segundo referiu, é que “eles pagavam”. Do resto, ele disse “não saber de nada”.
Este semanário apurou, no entanto, que alguns colegas ajudavam, de facto, Osvaldo a levantar dinheiro, mesmo sem suspeitar de onde provinha. Violavam, inclusive, a norma segundo a qual valores acima dos 100 mil kwanzas apenas podem ser levantados com a autorização da gerência, pelo que foi, contra eles, movido um processo disciplinar.
Osvaldo, porém, foi expulso do Banco e encontra-se detido nas masmorras da Cadeia de Viana onde aguarda pelo desfecho do julgamento que teve inicio nesta quinta-feira, 26, no Tribunal Provincial de Luanda, Dona Ana Joaquina.
Sobre Osvaldo dos Santos Van-Dúnem, recai a acusação que no período de Março a Junho de 2013, recorreu a fraude para movimentar de forma indevida as contas de diferentes clientes por si previamente seleccionados, surripiando para benefício próprio de valores intercalados, a exemplo de 30 milhões de Kwanzas, 97 mil dólares e Sete mil Euros
Destes valores, ele assume, n o entanto, apenas os que estiverem expressos em Kwanzas. Sobre os outros, disse não ter conhecimento e, no interrogatório, foi peremptório em afirmar que “não fiz as transferência em dólares nem as de euros, pois apenas assumo ter feito as de Kwanzas”. Adiante, prometeu devolver os valores que se encontram depositados na sua conta domiciliada no Banco Sol. Nesta instituição, ele abriu uma conta com o seu nome verdadeiro, para a qual transferia o dinheiro surripiado e depositando quantias em euro e em dólares.
Quanto aos possíveis autores do desvio, ele disse “a Direcção Técnica de Informática (DTI) foi quem criou o meu password, por isso eu não tenho confiança neles, não sei o que eles andam a fazer e são capazes”, acusou, ressalvando não poder assumir uma coisa “que não fiz”.
Questionado sobre as motivações que o levaram a tomar tais atitudes, o jovem disse que o fez imbuído do sonho “casa própria. Segundo referiu, “quando entrei para o BCI não foi com a intenção de fazer isso, mas depois certas situações levaram-me a pensar. Queria comprar uma casa na Nova Centralidade do Kilamba a pronto e não tinha valores”. Contou, por outro lado, que o seu crédito tinha sido cancelado pela direcção do Banco e que passou pela humilhação de não ter recebido o cabaz de natal numa altura em que estava doente. “Então, não vi outra solução que não aquela”, frisou. No entanto, disse, “estou arrependido”.
Depois de as suas falcatruas serem desvendadas, a direcção do BCI contactou os familiares do malogrado Osvaldo Serra Van-Dúnem. Para o seu espanto, foram informados que o mesmo não era filho e muito menos membro do clã Van-Dúnem.
No entanto, em todos os documentos que usa, isto é, desde os certificados de estudante, passaporte e bilhete de identidade consta como sendo Osvaldo Eduardo dos Santos Van-Dúnem, mestiço, de 1,70 de altura, filho de Osvaldo Serra Van-Dúnem e de Teodorina de Almeida Eduardo dos Santos, natural de Luanda, município do Sambizanga, curiosamente nascido a 28 de Agosto de 1988. Isto é, no dia e mês em que nasceu o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Segundo os especialistas da DPIC, Osvaldo tratou tais documentos de forma fraudulenta, procurando, com o nome, alguma facilidade para arranjar empregos. Assim,  antes de ingressar nos quadros do BCI, passou pelos bancos TOTTA e BFA, dos quais fugiu por entender que os salários eram baixos.
No interrogatório prestado à Polícia, quando questionado sobre a forma como adquiriu tal identidade falsa e como entrou no BCI, surpreendentemente respondeu: “recuso-me a responder sobre a identidade falsa e como entrei no BCI, como alguns pretendem, mas se querem mesmo saber como cá vim parar, perguntem ao antigo PCA e a um elemento da Segurança de Estado, eles sabem”.
Este jornal tentou o contacto com a direcção do BCI, pelo que fomos encaminhados para o gabinete jurídico, onde fomos recebidos pelo conceituado advogado Mbiavanga Rogério Manuel que vai representar aquela instituição bancária no tribunal. Em relação ao processo, limitou-se a dizer que não poderia acrescer mais nada porque o mesmo já se encontra em tribunal.
Recorda-se que recentemente foi detido em Luanda o cidadão Paulo Anderson Feijó Luís que se fazia passar por filho do Presidente da República de Angola, um identidade falso que lhe terá rendido algumas dezenas de milhões de dólares.
Os especialistas da DPIC apuraram existir um débil controlo por parte dos especialistas em segurança do BCI, pois só assim se compreende a facilidade com que Osvaldo realizou os saques e transferências sem ser apanhado a tempo de as evitar.
*Mariano Brás