.

.

martes, 23 de septiembre de 2014

23.09.2014 - Angola: Dos Santos foi incompetente na criação de símbolos angolanos - William Tonet

Dos Santos foi incompetente na criação de símbolos angolanos - William Tonet

Luanda -  A guerra da intolerância não tem como parar, tão pouco um líder capaz de erguer a sua voz apaziguadora, para frenar os ânimos dos mais empolgados numa clara agenda de espevitar a confrontação contra todos, quantos teimam em olhar e acreditar ser ainda possível ver implantada a democracia, para se construir uma sociedade harmoniosa com base no respeito pela diferença.
Fonte: Folha8
Em 33 anos de poder
O silêncio cúmplice do Presidente do MPLA e da República, em relação ao mais recente incidente, que opôs militantes da UNITA aos do MPLA/Polícia Nacional e Administração do Estado, no Bié, tal como o assassinato bárbaro e cruel de Hibert Ganga, por um militar da  Unidade da Guarda Presidencial mostram a existência de um plano secreto.
Angola desde 1975, sempre foi maltratada por atitudes e políticas musculadas, umas mais visíveis, outras mais sub-reptícias mas sempre desembocando no mesmo ralo da intolerância, que, desgraçadamente, nos levaram à duas guerras fratricidas, pós-independência. Quem sabe essa continuidade irresponsavelmente responsável, da intolerância política não esteja a lançar as sementes da Terceira Guerra.
Infelizmente, os intolerantes, os anti-democratas são muitos e campeiam por todas as instituições do Estado, tristemente partidarizadas, por quem privatizou o poder, primeiro como proletário, inspirado “num Tomo”, mal lido e interpretado de Karl Marx e Lenine, tanto que no dobrar da primeira esquina, se tornaram em proprietários vorazes, que passaram a roubar aos pobres proletários, para dar aos novos ricos.
Eu confesso, com o caminhar desta jornada, que me levou a atravessar campos de espinhos, passar fome de liberdade e justiça, palestrar e mobilizar “camaradas” sobre os grandes ideólogos comunistas, que pugnavam pelo “proletários ao poder”, como premissa para uma sociedade mais justa e humana, estar desapontado, por termos sido traídos.
Eles não eram, nem são, dirigentes de ruptura, mas se parecem como de continuidade, ao ponto de uma grande maioria, se ter convertido em neocolonialistas. Prenderam e mataram cidadãos que tinham notas de 1 dólar, hoje exibem relógios de 50 a 100 mil dólares e mansões de 25 milhões de dólares...
O Presidente do MPLA, tem sido incompetente, por não saber liderar uma verdadeira onda de cidadania despartidarizada, ao longo de 33 anos de consulado e quando assim é, Angola vê emergir, não um líder clarividente, mas a propagação do culto de personalidade de um homem, que se vai tornando, voluntária ou involuntariamente um verdadeiro ditador.
Dos Santos, sem dinheiro do crude, aliciador, domesticador e corruptor de consciências, está longe de chegar aos calcanhares de Nelson Mandela ou Julius Nyerere, líderes que foram capazes de transformar os seus territórios em projectos países, com políticas verdadeiras de unidade e reconciliação nacional, respeitando as diferenças ideológicas.
Na África do Sul, Mandela não se opôs à criação de uma Comissão da Verdade.
Não impôs a sua imagem na moeda nacional.
Não gastou mais de 25 milhões de dólares, para alterar os Bilhetes de Identidade de Cidadão Nacional e colocar a sua imagem.
Mandela nunca impôs o culto de personalidade, transformando o seu aniversário em dia nacional.
Um verdadeiro líder democrata, não privatiza a Comunicação Social Pública. Mandela demonstrou isso, tal como afastou a partidarização das instituições do Estado, mesmo tendo o ANC, seu partido, a maioria parlamentar.
Mandela criou uma bandeira nacional distante das cores do ANC, que orgulha os cidadãos e partidos políticos. Fez o mesmo quanto aos símbolos.
Mandela criou um hino nacional, sem carga ideológica, inspirado nas raízes africanas e não tinha vergonha das línguas sul africanas, colocando-as na Constituição, com base na diversidade do campo glotológico,  tendo como línguas oficiais o Sepedi, Sesotho, Setswana, Siswati, Tshivenda, Xitsonga, Afrikaans, Inglês, Isindebele, Isixhhosa e Isizulu. Reconhecendo ainda a mitigação histórica no uso de várias línguas autóctones, determinando que o Estado tome medidas no sentido de proporcionar a retomada do uso, manutenção e desenvolvimento dessas várias falas, através dos governos federal e provinciais que devem utilizar as muitas línguas, no contexto em que elas têm maior expressividade e poder de comunicação.
Mandela não se colocou como neoapartheid, quanto à propriedade da terra, pelo contrário, deu relevância à propriedade, textualizando constitucionalmente, “que ninguém poderá ser privado da propriedade, excepto em termos de lei que tenha aplicação geral.  A lei não poderá permitir apropriação arbitrária da propriedade. Lei de âmbito geral que defina perda de propriedade deve atender a interesse público. Deve também submeter o Estado a pagamento de compensação justa, que atenda ao equilíbrio entre o interesse público e o do particular.
Em Angola existe alguma semelhança, com o atrás descrito?
Responder para quê, cada leitor tirará as ilações devidas e neste quesito, até os mais ferrenhos bajuladores de Eduardo, nunca se orgulharão em ver um símbolo criado pelo seu regime, perpetuar-se no tempo… Seguirão o mesmo caminho do Muro de Berlim, da estátua de Saddam Hussein, Kadhaffi, entre outros.
Tudo isso leva-me com frustração e tristeza a não acreditar na capacidade de Eduardo dos Santos alterar o quadro actual do país, pelo contrário, tem estado a tornar-se num factor de instabilidade, cuja política discriminatória e de culto de personalidade, ameaçam a democracia e a consolidação de uma verdadeira paz.
Não acredito nesta “jessiana democracia do chicote”, polida com ditadura e corrupção institucional, por duvidar que ela vingue, por muito mais tempo, pelo contrário, vai levar-nos, à médio prazo, ao abismo e a explosão social descontrolada.