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viernes, 12 de diciembre de 2014

10.12.2014

«Esta ainda não é a Angola que preconizamos», diz líder da UNITA

Luanda - O Presidente da Unita, Isaías Samacuva está a fazer, uma vez mais, uma digressão por vários países do mundo, segundo ele para contactar amigos do seu Partido e cumprir compromissos internacionais. Nas declarações públicas que fez, Isaías Samacuva não escondeu que o seu Partido quer ser poder já no próximo pleito eleitoral e aproveitou a oportunidade para criticar a política do Executivo liderado pelo Presidente Eduardo dos Santos. Ele não ignora os benefícios da paz hoje visíveis em vários pontos do País mas acha que se poderia fazer muito mais se existisse mais verticalidade e honestidade dos políticos, sobretudo daqueles que têm a responsabilidade de governar Angola.
Fonte: Figuras e Negocios

De Cabo Verde, um dos pontos da sua passagem, Isaías Samacuva acedeu conversar via email com o jornalista e director da revista, Victor Aleixo. O relato da entrevista:
F&N ­ Li que o senhor foi a Portugal para cuidar dos seus dentes. Não acredita na saúde do seu País?
Não será contransenso condenarem os dirigentes do MPLA por volta e meia irem ao estrangeiro para tratar da sua saúde e vocês, particularmente o senhor, na calada seguir a mesma prática?
Isaías Samacuva (IS) ­ Não é verdade. Não saí do País para tratar dos meus dentes, nem vim a Portugal para este efeito. O meu périplo começou na África do Sul, passei pela Inglaterra e Portugal e agora estou em Cabo Verde. Como já deve ter reparado pelas notícias que certamente são do conhecimento público, tenho estado a cumprir uma agenda bastante carregada de contactos privados e públicos que só vai terminar dentro de duas semanas.
Quanto ao Sector da Saúde do meu País, eu gostaria de acreditar nele mas quando verifico que a maioria dos meus compatriotas procura, sempre que reúna meios para tal, tratar­se nos hospitais da nossa vizinha Namíbia ou da África do Sul, do Brasil, de Portugal ou de outros países, chego a pensar que algo está errado no sistema de saúde do nosso País. Ademais, os próprios responsáveis do País não se tratam nos nossos hospitais. São os primeiros a procurarem os hospitais dos outros países. Acho que isso não resulta apenas da busca do luxo mas porque o nosso próprio País ainda não consegue satisfazer cabalmente as nossas necessidades no sector da Saúde.
Nós criticamos a prática de recorrer aos hospitais do estrangeiro, porque gostaríamos de ver os nossos hospitais com a mesma qualidade dos de fora. É que nem todos terão possibilidades de procurar os hospitais de fora
do nosso País. Afinal, temos de olhar para a maioria do nosso Povo que é pobre e que não tem possibilidades de se deslocar para o estrangeiro. Por outro lado, potenciar os hospitais é também contribuir para a economia do nosso País, porquanto as visitas aos hospitais dos outros, facultam­lhes empregos que, se nos tratássemos no nosso País, deviam ser facultados aos nossos compatriotas.
Quanto a mim, pessoalmente, devo dizer que, felizmente, a minha saúde ainda me permite estar ausente dos hospitais, procurando­os apenas para os chamados “check­up”. Mas devo dizer que, várias vezes, tenho sido aconselhado para evitar os nossos hospitais, por motivos de segurança. Dizem­me que nos comités de especialidade há pessoas interessadas em saber onde costumo me tratar, pelo que devia – acrescentam – fazê­lo com as devidas precauções, caso viesse a precisar de ir a um hospital. Veja onde chegamos!
F&N ­ Não reconhece os esforços que o governo tem feito na área da saúde? O que deveria ser feito,na sua óptica e que o governo não faz de forma a credibilizar­se a saúde?
IS ­ Por aquilo que constato quando viajo pelo País, devo dizer que, nos últimos anos, o Governo desenvolveu um programa que dotou o País com infra­estruturas sanitárias que poderiam minimizar as necessidades dos cidadãos no campo da saúde. Infelizmente, um hospital não é apenas uma estrutura física. Os hospitais são as estruturas físicas, os médicos(as), os enfermeiros(as), o medicamento, as condições de trabalho criadas para o pessoal médico, etc., etc. Porém, por onde temos passado, os cidadãos lamentam o facto de que, segundo eles, os hospitais nem sempre têm profissionais da saúde em número que facilite o atendimento. Do outro lado, dizem que os hospitais não têm medicamentos e que, quando estes aparecem, acabam por ser transferidos para as farmácias de dirigentes que os vendem a preços que o cidadão comum não consegue suportar. Também as relações humanas entre alguns profissionais de saúde e os pacientes são, de uma forma geral, referidas como sendo péssimas, ou seja, os cidadãos queixam­se de ser mal tratados e de não encontrarem o acolhimento que um doente precisa.
Do lado dos profissionais da saúde também encontramos muitas queixas, principalmente no que diz respeito às condições de trabalho e aos salários que lhes são atribuídos. Muitos deles enfrentam dificuldades no que diz respeito ao seu alojamento lá onde trabalham pois, em muitos casos, são originários de regiões ou localidades distantes das do seu posto de trabalho. Outro aspecto que me parece de extrema importância, é o facto de que a saúde passou a ser um negócio muito lucrativo. Então, como consequência, verifico que, em muitos casos, o profissional de saúde está mais preocupado com o número de pacientes que atende por dia, ou seja, está mais preocupado com a facturação diária e não tanto com a atenção que deve dispensar ao paciente. Enfim, há uma série de aspectos, uns mais importantes que os outros, que precisam da atenção dos responsáveis deste sector tão importante para a vida dos cidadãos. Mais investimento para ultrapassar as lacunas que mencionei e outras que não mencionei. Também precisamos de mais humanismo, mais solidariedade e de mais carinho dos que tratam da nossa saúde. Estes são apenas alguns aspectos de que a nossa saúde carece.
F&N ­ O senhor foi muito crítico na réplica à Mensagem sobre o Estado da Nação do Presidente Eduardo dos Santos. Justifica­se assim tanta rispidez? Não teme que essa linguagem musculada, muito frequente nas declarações de dirigentes dos dois maiores partidos politicos, possa minar o caminho da reconciliação dos angolanos?
IS ­ Honestamente falando, acho que o problema com que nos confrontamos é saber se devemos chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes com o objectivo de chamar a atenção de quem precisa entender que não aceitamos ser ludibriados ou se apenas nos devemos calar perante tanta mentira, tanta desonestidade e tanta injustiça para agradar quem nos quer ver ludibriados. A minha réplica ao discurso do senhor Presidente da República sobre o Estado da Nação consistiu apenas em transmitir o nosso ponto de vista sobre o Estado da Nação. Sendo réplica, teve de se basear nas afirmações do senhor Presidente da República, expondo os nossos pontos de vista que, por sinal, são diferentes dos do senhor Presidente. Naturalmente, tivemos de dizê­lo, explicando e fundamentando as razões que marcam a diferença entre o nosso ponto de vista e o do senhor Presidente.
Acho que o relacionamento entre a UNITA e o MPLA precisa de ser revisto na medida em que, ao invés de viverem o presente, há sectores que estão continuamente fixados no passado. Uns e outros precisam de compreender que Angola é o nosso berço comum e que ninguém é mais que o outro. Todos somos filhos deste País, todos temos os mesmos direitos e deveres e que, sobre o passado, culpados fomos todos, vítimas fomos todos e responsáveis fomos todos. Agora, temos de virar a página e fixarmos os nossos olhos no futuro que deve ser construído cada dia que passa com actos práticos que consolidam o processo de reconciliação nacional. O futuro a que me refiro, não será construído e nunca chegará se alguém pensar que os outros vivem graças a ele. Do mesmo modo, este futuro nunca será presente se for baseado na bajulação, na falsidade e em estereótipos. A reconciliação nacional exige frontalidade, verdade, justiça e reconhecimento mútuo que gera respeito mútuo.
F&N ­ O senhor tem feito digressões pelo interior do País e tem sido alvo de banhos de massa. É isso que o faz acreditar que está próximo o caminho para se tornar Presidente da República?
IS ­ De facto tenho viajado pelo País inteiro e constato com satisfação que a implantação da UNITA no País é satisfatória e que esta granjeia do apoio cada vez maior de uma grande franja do Povo Angolano. É verdade que por todo o lado por onde temos passado, somos alvos de grandes banhos de massas populares. Esta realidade, infelizmente, dada a parcialidade que caracteriza os meios de comunicação social públicos, é pouco conhecida no País. Devo dizer que apesar desta realidade, que para nós é bom sinal, vamos continuar a trabalhar para garantirmos a vitória do nosso partido nas próximas eleições.
F&N ­ O adiamento da realização das eleições autárquicas não é consequência da falta de estratégia das forças políticas que não sabem fazer "os deveres de casa" e se preocupam com as acções em "cima do joelho", quando se sabe que até agora o pacote jurídico para sustentar esse processo não foi feito?
IS ­ Quanto a mim, pessoalmente, o adiamento da eleições autárquicas resulta apenas da falta de vontade política do senhor Presidente da República. Penso que não se pode culpar mais ninguém. A oposição fez e tem feito o que pode fazer para que as eleições autárquicas fossem realizadas. Sabendo que a sua realização, no nosso País, ainda carece de um pacote legislativo que regule diversos aspectos que o processo e o sistema autárquico requer, além de pressões de vária ordem, a UNITA apresentou à Assembleia Nacional uma proposta de lei como forma de pôr em andamento o processo das eleições autárquicas. Esta proposta foi mantida em silêncio, pela Assembleia Nacional, durante muitos meses e depois de muita pressão foi levada ao plenário só para ser chumbada e não para ser debatida. Do outro lado, as condições mencionadas recentemente pelo senhor Presidente da República como sendo essenciais para a preparação do processo autárquico, englobam questões básicas que todos já sabiam ser indispensáveis para se organizar eleições autárquicas. Por isso, só a falta de vontade política – para não dizer falta de honestidade – que justifica esta manobra. Alguns dirão que a pressão que tem sido feita não é suficiente ou que não é a mais adequada, pelo que devíamos levantar o Povo para manifestar, exigindo a realização das eleições autárquicas. Também é uma forma que, entretanto, nós reservamos para último recurso, dadas as consequências colaterais que tal caminho pode originar. Nas nossas decisões, nós procuramos ter sempre em mente, o nosso (nós os angolanos) passado recente e agir com ponderação e responsabilidade.
Através dos grupos parlamentares, temos mantido contactos na Assembleia Nacional sobre este assunto. O nosso objectivo é exatamente de adotar estratégias comuns para contornarmos a posição do partido maioritário.
F&N ­ Como está a "saúde" da Unita, atendendo que tenho lido nos jornais que o Partido está a perder vários militantes?
IS ­ Como já disse atrás quando me referi aos banhos de massas a que a UNITA tem sido submetida nos últimos anos, posso dizer que a "saúde" da UNITA está boa. É por isso que de tempos em tempos, o partido que sustenta o Poder fabrica histórias de deserções de militantes da UNITA. Na realidade, estas histórias são mesmo fabricações. Vou citar dois exemplos que foram recentemente referidos pela Comunicação Social Pública:
• – Fez mais ou menos um mês e meio ou um pouco mais, quando a TPA passou uma peça onde anunciava que mais de mil militantes da UNITA, da comuna da Chinhama no município de Kachiungo, Província do Huambo, teriam passado para o MPLA. Na tentativa de sustentar esta afirmação, passou imagens do que teria sido um comício de apresentação dos referidos desertores da UNITA onde, entretanto, só falaram dois indivíduos, aparentemente chefes do grupo desertor. Porém, quando solicitamos dados sobre essa peça veiculada pela TPA, apuramos que na área referida não houve nenhuma deserção e que os dois indivíduos que foram postos a falar eram antigos militares das ex­FALA que se passaram para o MPLA desde que foram capturados nos anos 80.
• – Também fez mais ou menos um mês, quando o senhor Governador da Província do Bié mandou concentrar cidadãos de várias comunas do Município do Andulo, no município sede, com a promessa de que iam receber fertilizantes. Metidos nos camiões com a ajuda da Polícia e postos no Andulo, foram­lhes distribuídas camisolas com símbolos do MPLA e levados a seguir para um comício onde foram apresentados como sendo militantes da UNITA que tinham decidido passar para o MPLA. O mais caricato desta cena é que no fim do referido comício estes populares foram abandonados à sua sorte e tiveram que se dirigir ao comité da UNITA no Andulo para solicitarem transporte para regressarem às suas origens!
Estas cenas organizadas pelos responsáveis do MPLA que ostentam, ao mesmo tempo, o nome de governantes destinam­se exactamente a passar e criar a ideia de que a UNITA está a morrer. A verdade é completamente diferente. A UNITA está de pé e a crescer, graças ao trabalho de mobilização que tem trazido ao partido novos membros vindos de outros partidos, sobretudo do MPLA . Outros vêm de sectores de angolanos que até agora nunca tinham filiação em nenhum partido político .
F&N ­ Como "adormeceu" a oposição que contestava o seu prolongar de mandato à frente da Unita? Vai continuar a ser Presidente do Partido até quando?
IS ­ Não preciso de "adormecer" ninguém dos que contestam a minha presença na direcção da UNITA. Também não sei se há alguém que tenha sido adormecido. Creio que todos compreendemos que as campanhas têm o seu tempo e que, agora, é tempo de trabalharmos juntos para fortalecermos o nosso Partido. Os congressos têm o seu tempo. Eles são realizados de quatro a quatro anos e uma das suas tarefas é eleger o Presidente do Partido (nr. 5 do Artigo 22 do Estatuto da UNITA). No próximo ano de 2015, por exemplo, vamos ter Congresso e aqueles que querem ter o cargo de Presidente da UNITA, podem candidatar­ se e submeter­se ao voto dos militantes. Este processo é claro e aberto e tem sido conduzido com muita transparência. Quanto à minha pessoa, acho que ainda é cedo para dizer o que vai acontecer depois do nosso Congresso. Prefiro concentrar a minha atenção no trabalho que me é exigido pela necessidade de continuarmos, como já disse atrás, a fortalecermos o partido. Se este estiver forte, todos beneficiaremos disso. Tanto os que saem como também os que ficam na direcção do Partido.
F&N ­ Angola completa agora 39 anos de independência. Valeu a pena esse percurso? Este era o País que o senhor imaginava há trinta e nove anos atrás? Quais devem ser os próximos desafios do País e que contribuição a Unita pode dar, no poder ou na oposição?
IS ­ Estamos de facto no mês da independência do nosso País. Ela, a independência, foi uma das maiores conquistas dos angolanos. Creio que, apesar dos conflitos que nos dividiram e que ainda nos dividem, valeu a pena termos lutado e conquistado a independência do nosso País. Agora se este é ou não o percurso que desejava, ou se esta é ou não a independência que esperava, devo dizer claramente que não. Eu imaginava que uma Angola independente seria diferente da que vemos. Esperava que a independência criasse melhores condições de vida para todos os angolanos ou para a maioria dos angolanos. Esperava que a independência promovesse maior unidade entre os angolanos; que houvesse maior consideração pelo angolano, dando­lhe prioridade na solução dos problemas que dificultam a vida. Enfim, esperava que o angolano fosse sempre o primeiro, o segundo, o terceiro e sempre. Alguém dirá que isso não acontece por causa da guerra mas eu direi que a guerra que já terminou há doze anos, já não pode justificar tudo. Creio, entretanto, que grande parte dos países do Mundo, mesmo os avançados, tiveram também períodos conturbados na sua história. Portanto, estou optimista quanto ao futuro. Creio que dos escombros vamos erguer uma Angola próspera e digna. A UNITA tem procurado dar a sua contribuição e vai continuar a fazê­ lo. Há o desafio da reconciliação nacional que é muito grande mas está à medida dos angolanos. Outro desafio é o da justiça social. Acho que a distribuição da renda nacional deve ser mais justa para que todos os filhos ou pelo menos a maioria dos filhos do nosso país, possam viver com dignidade.
F&N ­ Se um dia chegar a Presidente da República,qual será a sua primeira tarefa?
IS ­ A primeira coisa que eu faria, se um dia fosse Presidente da República, é materializar o desejo de me colocar acima de todos os partidos e ser verdadeiramente presidente de todos os angolanos. Esta é uma condição psicológica, política e social necessária para enfrentar outros desafios que a figura do Presidente da República tem na condução do País.
F&N ­ Qual o objectivo dessa sua digressão ao exterior do Pais?
IS ­ O objectivo desta minha digressão a países africanos e europeus, resulta da necessidade de executarmos tarefas que nos foram consignadas pelos órgãos competentes do Partido e para satisfazermos convites que recebemos de amigos e não só, no decurso deste ano. A minha delegação é constituída, além de mim próprio, pelo Deputado Alcides Sakala, Secretário para os Assuntos Internacionais da UNITA e pelo Adalberto Costa Júnior, Vice Presidente do nosso Grupo Parlamentar. Vamos também participar na reunião anual da Regional África da Internacional Democrática do Centro(IDC), que é a família política Internacional a que pertencemos. Como vê, somos apenas três para uma missão tão importante e que envolve vários assuntos. Para o bom cumprimento da nossa missão, temos trabalhado noite e dia.
F&N ­ Não acha que esta é uma forma de lavar a "roupa suja" de casa fora das fronteiras de Angola?
IS ­ Como sempre acontece, também agora temos lido aqui e acolá o que esta nossa viagem tem suscitado no nosso País. Há mesmo quem diga que estamos aqui a fazer queixinhas aos nossos interlocutores. Outros dizem que estamos a fazer o que se assemelha a “lavar a roupa suja fora de casa”. Outros ainda andam a deturpar os nossos pronunciamentos, procurando incitar ódio! Estamos habituados a esta agitação. A verdade é que não dissemos nada que não tivéssemos dito já, frequentes vezes, no País. Gostaria de aproveitar este espaço para dizer que se alguém ainda pensa que o mundo ignora o que se passa em Angola, então este deve estar a enganar­se a ele próprio. Com o movimento de estrangeiros que entram e saem de Angola; com embaixadas sedeadas em Angola; com tanta gente que enche os aviões que vão e saem de Angola, ainda alguém pensa que os centros do poder, ou os diversos sectores da opinião internacional ignoram o que se passa em Angola? Acham que estes que acabei de mencionar estão à espera dum Samacuva para lhes dizer o que se passa em Angola? Alguém acha que analistas, homens de negócios, governantes, se orientam apenas por aquilo que encontram no Jornal de Angola ou escutam na TPA? Alguém ainda ignora que o Mundo passou a ser uma aldeia global onde tudo o que se passa se espalha em minutos pelos corredores e pelos bairros dessa aldeia? Ou então o que se procura é o nosso silêncio perante o sofrimento e o aplauso barato, bajulador e conivente perante a desgraça do nosso Povo?
F&N ­ Num tempo de apertar cintos, o senhor faz uma digressão pelo mundo. Isso não fica muito caro?Ou quer demonstrar que a Unita, afinal, continua a ser um Partido muito rico?
IS ­ Ao invés do que se procura fazer crer, a UNITA que conheço, nunca foi um partido rico. Teve uma fase curta da sua história em que esteve de certo modo folgada mas sempre com dificuldades enormes. O que a UNITA sempre fez é gerir bem os seus recursos, direcionando­os para aquilo que é de mais prioritário para a sua existência. Com as responsabilidades materiais e humanas que a UNITA sempre teve, não teria conseguido sobreviver se esbanjasse os seus recursos como outros fazem. Por causa da discriminação praticada no País, ainda hoje, a UNITA tem sido forçada a dispender os poucos recursos que tem em várias situações que deviam ser da responsabilidade social do governo. Às vezes pensamos que tudo isso é feito para nos dificultarem a vida. Entretanto, com o pouco que conseguimos, temos procurado fazer tudo, incluindo consentir alguns sacrifícios, para continuarmos a ter o nosso Partido de pé. Aliás, como disse atrás, a minha delegação é apenas de três pessoas, eu próprio, inclusive. Portanto, o apertar o cinto continua. E não é só para uns e outros não. É para todos.
F&N ­ Fale­nos da "saúde" financeira da Unita. Como estão as minas de diamantes que explora? Acha correcto um partido político beneficiar dessa facilidade de explorar, para seu proveito próprio, uma riqueza nacional?
IS ­ Que eu saiba, a UNITA não explora diamantes nenhuns. O que existe é uma companhia constituída por alguns membros da UNITA e que tem uma concessão para explorar diamantes. Também que eu saiba, este processo tem encontrado diversos obstáculos que ainda não foram ultrapassados.
F&N ­ A Unita diz que vai ser poder nas próximas eleições, a CASA CE também diz a mesma coisa. Se o senhor não ganhar as eleições e perder o estatuto de segundo maior partido da oposição, pela CASA­ CE demite­se?
IS ­ Do lugar de segundo maior partido, a UNITA só passará para o lugar do primeiro maior partido. Esta é a nossa aposta. Este é o desafio que está à nossa frente. Assim sendo, acho que a segunda parte da sua questão dispensa resposta.