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sábado, 12 de marzo de 2016

Surto da febre amarela é o corolário da falência do sistema sanitário - Por Maurílio Luiele



O Governo Sombra da UNITA, através do Secretariado da Saúde, vem por meio desta deplorar a catastrófica degradação da situação sanitária que se assiste no país.

Com efeito, diante da crise económica que se abateu sobre o país, fruto da rápida depreciação dos preços do petróleo no mercado internacional e da deficiente gestão dos recursos públicos, tornava-se imperioso resguardar alguns sectores dos efeitos deletérios da mesma. Porém, os clamorosos erros de política durante o período áureo da economia e a lentidão na assumpção de medidas imediatas, consistentes e coerentes quando se declarou a crise económica, fizeram com que sectores sociais sensíveis fossem imediatamente contaminados.


Assim, vimos entrar rapidamente em falência o sistema de recolha e tratamento de resíduos sólidos das principais cidades do país, com destaque para a capital, Luanda. O lixo passou a integrar, da pior maneira, a paisagem urbana dessas cidades, tendo a situação assumido contornos de uma calamidade pública, ante a total impotência das autoridades em restaurar o sistema. Com o desabrochar da época chuvosa e o consequente acúmulo de águas pluviais, constituiu-se o cocktail necessário para desencadear, sem surpresas, surtos epidémicos que contribuem sobremaneira para a caótica situação sanitária que o país atravessa.

O surto de febre amarela é, assim, o corolário da falência do sistema sanitário do país em relação ao qual o Executivo tem respondido com tibieza, com medidas pouco articuladas e com falhas gritantes no que diz respeito à comunicação, aspecto fundamental para assegurar a adesão das populações e o êxito das acções a empreender. A campanha de vacinação, particularmente, tem sido pautada por uma estrondosa desorganização que leva a que, nos postos de vacinação, ocorram filas enormes onde as pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, passam horas a fio, muitas vezes sob sol intenso ou mesmo chuva. As falhas de comunicação já aludidas têm impedido que sejam suficientemente divulgados os locais de vacinação e os alvos a vacinar. Por esta razão, muitas pessoas têm percorrido distâncias enormes em busca de postos de vacinação e tem se assistido, nos postos de vacinação, a comportamentos menos dignos como o favorecimento de algumas pessoas em detrimento de outras que madrugam e até fenómenos de corrupção que podem comprometer o êxito da campanha.

É importante esclarecer que há evidências científicas suficientes que atestam o elevado grau de protecção que a vacina contra a febre amarela confere por um período de pelo menos dez anos. Assim, e porque a vacina não está disponível em quantidades que recomendem o desperdício, deveriam ser devidamente identificados os alvos a vacinar, evitando vacinar pessoas que tenham sido vacinadas há pelo menos cinco anos, permitindo que seja imunizado o maior número possível de pessoas. Muitos dos que efectivamente necessitam da vacina não têm tido, de facto, acesso à mesma.

Por outro lado, as medidas de controlo do surto da febre-amarela não se devem circunscrever à campanha de vacinação. É importante articular esta campanha com outras medidas, nomeadamente a melhoria do sistema de informação que permita uma notificação célere dos casos e, mais importante, o conjunto de acções individuais e colectivas tendentes a combater o vector da doença, o mosquito aedes ægypti. Quaisquer destas acções precisam estar acopladas a uma campanha dirigida, intensificada de informação, comunicação e educação para a saúde, a fim de promover a participação consciente das populações e das comunidades.

A fragilidade nas acções de luta antivectorial faz com que o presente surto de febre amarela ocorra simultaneamente ao aumento sazonal na incidência de malária, dengue e chikungunya que têm sobrecarregado as já debilitadas estruturas sanitárias. Tem se assistido a uma letalidade elevada, particularmente por malária, que certamente influirá negativamente nos já depauperados indicadores sanitários, essencialmente a mortalidade infantil e mortalidade materna.

Importa finalmente referir que as condições actuais favorecem a propagação, no nosso meio, do virus Zika. A Organização Mundial de Saúde, OMS, Afro orientou já os estados membros a reforçarem as medidas de luta anti-vectorial e a intensificarem a pesquisa para detecção eventual de casos de doença e de microcefalia bem como as acções dirigidas de informação e comunicação. Não se regista nenhuma acção do Executivo angolano neste sentido que prefere, como sempre, trabalhar depois sobre o joelho em vez de privilegiar acções preventivas.

Diante deste quadro, a UNITA, através do seu Governo Sombra, insta o Executivo a:
- adoptar urgentemente acções que resguardem o sector de saúde da crise económica presente, alocando atempadamente os recursos financeiros e outros, necessários para a prossecução dos diversos programas, em curso e a ser delineados, em virtude da presente situação crítica.

- trabalhar intensamente com os parceiros nacionais e internacionais para corrigir as graves distorções que se assistem no conjunto de acções tendentes a controlar o presente surto de febre amarela e a diminuir a incidência de malária, chikungunya e dengue.


Secretariado da Saúde do Governo sombra da UNITA,
em Luanda, aos 25 de Fevereiro de 2016


O Secretário Nacional
Maurílio Luciano S. Luiele, MD, MSc