O antigo Secretário-geral do Comité Intereclesial para Paz (COIEPA) que falava esta quarta-feira, 9 de Novembro de 2017, no Programa “A Hora Das Perguntas”, da Rádio Despertar, esclarece que, em democracia os cidadãos organizam-se para a causa comum, e apela o estado ao reconhecimento destas acções da sociedade, como uma contribuição válida.
“Se é democracia, os cidadãos ávidos organizam-se em volta daquilo que acham que é um problema de todos e, tem que ser resolvido. De todos, porque numa situação concreta há necessidade de acção. O estado deve olhar para isto como uma contribuição válida e valorizar essas acções”.
Ntony Nzinga criticou o papel dos Agentes Cívicos Eleitorais que trabalharam na sensibilização dos eleitores para as eleições gerais de 2017, que considerou a acção destes como tendo sido propaganda eleitoral.
“Eu fiquei triste durante essas eleições, a pensar que, alguém está a mostrar o boletim de voto, e dizer: está a ver isso, esse é o partido fulano, esse é partido fulano. E, você para votar para mim, está a ver aqui, põe aqui”, e, estão a dizer que isso é Educação Cívica Eleitoral. Isso é propaganda eleitoral. Não é Educação Cívica Eleitoral”.
De acordo com o Pastor, a Educação Cívica Eleitoral é que vai dizer ao cidadão: o quê que é a eleição, como é que se realiza, quais são os impactos e as implicações; o significado, primeiro, do meu voto ou do teu voto e, como é que isso vai impactar a vida dos outros e, sem dizer para quem é que, você deve votar.
O Reverendo Ntony Nzinga revela ausência de Educação Cívica Eleitoral nos pleitos eleitorais de 2008, 2012, e 2017, como consequência da partidarização do sistema de governação do país.
“Agora, o propagandista é que vai dizer: “essa coisa, se você faz assim, vais votar correcto”. Não. O voto correcto é acerca dos assuntos. Não é acerca de quem é. Essa é a educação cívica que faltou. Faltou não só agora, em 2012 não houve, em 2008 não houve. Porque, o estado não se preocupa com isto. A partidarização do sistema de governação fez com que, nunca nos preocupamos nisto. E, eu estou a continuar a dizer, disse. E, vou continuar a dizer: a sociedade civil é a força que deve se engajar na Educação Cívica Eleitoral, o mais cedo possível.
Por outro lado, Reverendo Ntony Nzinga apela a sociedade a começar a trabalhar já para as eleições de 2022.
“Já estamos em Novembro. A sociedade civil angolana não deve esperar Novembro do próximo ano para começar a falar das eleições. Deve começar a trabalhar agora. Claro, temos um grande desafio”.
O responsável eclesiástico criticou o conceito de sociedade civil adoptado durante o sistema de governação passado, em que só era considerada sociedade civil grupo que se posicionavam a favor do governo, defendendo que a mudança desse especto como uma das exigências da democracia para o actual governo.
A noção de sociedade civil ficou um pouco corrupta na nossa sociedade. O que é que eu quero dizer? Alguma certa, aquilo chamo, é confusão, entre organizações de massas e organizações da sociedade civil. Porque, durante um bom tempo, o sistema governativo do nosso país, só considerou sociedade civil aquelas organizações que estavam ligadas com o partido da situação e, tudo que não é, e não era, era considerado como uma opinião sem valor. Esse é uma das mudanças, uma das exigências da democracia que, a nossa sociedade e o nosso sistema de governação deve adoptar”.
Para o reverendo, Sociedade civil é todo aquele grupo, organização de cidadãos activos que, acha que há um problema que deve ser resolvido e vamos contribuir, não só com as nossas ideias, mas com a nossa acção, a acção de cada um, para podermos resolver esse problema ou corrigir esse problema. E, sociedade civil não deve ser apenas, um grupo de gente ligado à esse ou aquela formação política, e que, está a fazer barulho; aquilo que chamávamos nos tempos, organizações de massas.
O antigo Secretário-geral do Comité Intereclesical para Paz (COIEPA) repudia a discriminação de organizações que têm trabalhado em assuntos de interesse social, concedendo apoio total a outras que defendem posições do governo.
“E, desculpa lá, mas é uma prova concreta para mim, aquilo que vimos nos últimos cinco anos é exactamente isso. São grupos de militantes de um partido que, se organizam em volta de um assunto; essas têm todos os meios e têm todas as vozes, e tudo que dizem é bom. Quando outros que não são nessa coisa, é tido como uma coisa que não tem valor. E, pior ainda, a nossa sociedade conseguiu, muitas vezes, dar recursos de todos nós à essas organizações, quando outros estão a trabalhar em assuntos concretos, numa situação séria, têm que esperar por alguém de fora”. |