João Lourenço apresentado no quadro da sucessão presidencial
- 27 maio 2014
Lisboa
- A recente nomeação de João Lourenço para o cargo de ministro da
Defesa Nacional é interpretada, em meios políticos conotados com o
regime e outros, independentes, nos seguintes termos:
Fonte: Africa Monitor
- Representou a sua reabilitação política plena.
- Prestou-o a passar a ser novamente identificado como candidato eventual à “sucessão
presidencial” (percepção decorrente de uma conjugação de factores,
entre os quais os atributos pessoais e políticos que reúne, memória da
sua antiga condição de “delfim” e a projecção do cargo que passa a
desempenhar).
- O Ministério da Defesa tenderá a adquirir mais autonomia e respeitabilidade – em especial para conforto dos militares.
No
seguimento de uma reaproximação entre o Presidente, José Eduardo dos
Santos (JES) e João Lourenço, que informações verificadas, recentes,
indicavam estar em curso (AM 834), previa-se a nomeação do mesmo para um
cargo com importância e visibilidade compatíveis com o seu próprio
estatuto político.
O
cargo de governador de Luanda, que em dado momento (AM 799) se supôs
ser o que lhe estava destinado tem, mesmo apesar dos poderes reforçados
com que elegadamente o exerceria, menos importância política que o de
ministro da Defesa – o que significa que o alcance da sua reabilitação
foi maior; ou completa.
2
. A função dos ministros da Defesa esteve nos últimos anos sujeita a
uma nítida subalternização institucional e política (AM 726), em
consequência de uma sistemática absorção de competências inerentes ao
cargo pelo chefe da Casa Militar, na pessoa do Gen Helder Vieira Dias
“Kopelipa”.
O
fenómeno manifestou-se com especial acuidade no “consulado” do anterior
ministro, Cândido Van Dunem – uma realidade atribuída factores
adicionais como traços da personalidade do próprio (AM 730), o seu
“espírito de resignação” e ainda as suas relações de parentesco com
“Kopelipa”.
Em
relação a João Lourenço, a ideia prevalecente é a de que exercerá o
cargo em plenitude (algo que corre ter acautelado). O chefe da Casa
Militar ficará, assim, despojado de pelo menos parte da capacidade que
tinha para interferir no sector da Defesa, perdendo também uma parcela
dos seus vastos poderes.
“Kopelipa”
passa por cultivar uma atitude de vincada lealdade em relação a JES.
Nunca exterioriza sentimentos de reserva ou cepticismo em relação a
decisões do Presidente. Ainda assim, comenta-se nos meios referidos que
não terá ficado agradado com a nomeação do novo ministro.
João
Lourenço foi até 2006 (ano do seu declínio), uma figura proeminente do
regime. Ascendeu cedo ao BP MPLA, partido do qual foi também SG; exerceu
funções governativas e tem a patente de General. Para além do seu
perfil, são-lhe reconhecidas particulaeridades de carácter
“desconformes” com um exercício plástico do novo cargo.
3
. O brilho associado à presente reabilitação de João Lourenço (diz-se
que “entrou pela porta grande”), está igualmente a dar azo a conjecturas
segundo as quais passou a ser um elemento a ter em conta na sucessão
presidencial; não são estranhas a tais conjecturas evocações da sua
antiga condição de “delfim”.
Manuel
Vicente continua a ser visto como a figura que futuramente substituirá
JES como Presidente (AM 815). O cenário tem mesmo vindo a tornar-se mais
consistente por reflexo de percepçõees e evidências no sentido de que a
primazia que lhe é conferida adquiriu já uma dinâmica de improvável
retrocesso.
A
ligação instintivamente estabelecida entre a actual recuperação de João
Lourenço e a sua reentrada na “corrida presidencial”, serve
aparentemente cálculos políticos de JES baseados numa formulação do tema
da “sucessão” cujos factores chave são os seguintes:
-
Manuel Vicente é o escolhido, embora mais por dedução e menos por
afirmação; mas não convém que se acomode; a ideia da existência de um
ambiente de concorrência expõe Manuel Vicente a maior pressão,
obrigando-o a “não relaxar”.
-
A entrada em cena de uma outra personalidade forte, ainda que apenas
ilusoriamente, “baralha contas já dadas como certas” – um efeito muito
visado no método de análise e acção política de JES.
-
Uma indefinição maior do quadro da “sucessão” também apresenta, para
JES, a vantagem de confundir/distrair a própria elite do regime (meios
externos, idem), que dedicam ao assunto especial atenção
Os
predicados de João Lourenço para se afirmar, de facto, como ministro da
Defesa, também terão influenciado a sua escolha por JES – sendo a
análise respectiva a seguinte:
-
“Kopelipa” não gozava de boa aceitação entre os militares devido à
secundarização em que colocava o ministro da Defesa e os chefes
militares em geral.
-
As reservas dos militares em relação a “Kopelipa” atingiam por
arrastamento Manuel Vicente, devido às muito estreitas relações
consabidamente existentes entre ambos – pessoais, de negócios, etc.
4
. O sinal preliminar de que uma reabilitação de João Lourenço estava em
marcha foi a recente eleição de Mário António, para o BP MPLA,
acompanhada da sua cooptação para o cargo de secretário para a
informação (porta-voz) em substituição de Rui Falcão (AM 752) É
usualmente considerado “amigo de peito” de João Lourenço.
De
acordo com pontos de vista considerados pertinentes, a reabilitação de
João Loiurenço também é do interesse de JES, tendo em conta o facto de
se tratar de uma figura prestigiada no regime e na sociedade em geral –
um atributo em larga escala devido à sua boa reputação, facilitada pela
sua preparação, educação e dotes oratórios.
É
natural do Lobito, mas os seus progeniotores eram originários de
Luanda. A sua carreira política, considerada devida aos seus próprios
méritos, por não provir de nenhuma família tradicional do regime, foi
inicialmente devida a Lopo do Nascimento, ao qual sucedeu como líder da
bancada do MPLA.
A
ascensão posterior foi, no entanto, devida a apoios de JES, que nele
passara a depositar grande confiança pessoal e política – em parte
devida a demonstrações de lealdade e dedicação. O ambiente entre ambos
anuviou-se quando João Lourenço se apresentou publicamente como
candidato à “sucessão” em termos que agastaram JES.
ARTIGOS RELACIONADOS
ARTIGOS + RECENTES
+ LIDOS EM FOCO DO DIA
LEIA TAMBÉM