Benguela: MPLA reabilita dirigente acusado de peculato pela PGR
- Categoria Política
- 07 julho 2014
Luanda
- A designação de David Nahenda, no passado dia 24 de Junho, para o
cargo de secretário para informação e propaganda do Comité Provincial do
MPLA, em substituição de Zacarias Davoca, que agora ocupa a função de
secretário para os assuntos políticos, económicos e eleitorais, que por
sua vez sucedera ao agora vice- governador Victor Sardinha Moita, não só
passou despercebido para a imprensa do fim-de-semana como também para
os órgãos oficiais do governo.
Fonte: SA
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Segundo
fontes do Semanário Angolense, a elevação de David Nahenda para o
prestigiado cargo de secretário para informação, teria obedecido aos
interesses de um núcleo restrito da comissão executiva do partido local,
que pretendeu com o «black-out» evitar qualquer «bloqueio» à sua
nomeação.
Consta que a sua ascensão
teria sido feita a contra-gosto do primeiro secretário provincial do
MPLA, Isaac Maria dos Anjos, que se veria obrigado a render-se aos
ditames do grupo que o promoveu, para evitar uma «guerra interna» entre
os membros da comissão executiva do partido em Benguela.
No
entanto, segundo as nossas fontes, é possível que a promoção de Nahenda
vise dotar-lhe de poder político suficientemente capaz de evitar uma
eventual detenção sua num processo-crime em que está envolvido,
instaurado pelo ministério público, sob a acusação de peculato.
«É
pouco provável que, agora que foi indicado nesse cargo, que o coloca
praticamente como a terceira pessoa do partido em Benguela, a PGR ganhe
coragem para mandar detê-lo, sabendo-se como o poder político interfere e
influencia as decisões do judiciário», explicou uma das fontes que
temos estado a citar.
Para elas,
apenas nesse sentido se pode compreender a sua ascensão, uma vez que não
se reconhece a David Nahenda capacidade intelectual e bagagem política
suficientes para responder a contento as elevadas responsabilidades e
exigências do cargo que passou a ocupar muito surpreendentemente.
«Se
quisermos ser um partido forte e dinâmico, temos que passar a colocar
as pessoas certas nos lugares certos», disse um militante de proa do
partido dos camaradas. Acrescentando: «Um secretário para informação
deve ser um mobilizador nato e uma pessoa com boa capacidade oratória,
requisitos que todos sabemos que escapam a David Nahenda».
De
resto, a ascensão de David Nahenda acontece numa altura em que o
partido no poder em Benguela atravessa um mau momento em termos de
adesão desde as eleições gerais de 2012. Na verdade, é cada vez mais
fraca a adesão que o MPLA vem registando nas suas actividades de massas,
como sinal de que algo não vai bem em termos de mobilização, ficando-se
por se saber se é resultado do desencanto dos cidadãos pelo sofrível
desempeno da sua governação ou se terá a ver com o facto de muitos
militantes não verem compensados o «litro» que dão pela sua causa.
Quem é quem
Mas,
quem é o homem de quem se fala? David Luciano Nahenda, natural da
Ganda, foi durante 7 anos o primeiro secretário da JM- PLA nesse
município, tendo, em 2009, sido guindado ao cargo de secretário
provincial da organização. Aos 43 anos, é estudante do último ano do
curso de Ciências da Educação no ISCED/Benguela, uma das unidades
orgânicas da Universidade Katiavala Bwila.
Ao
nível da administração pública, já foi responsável da repartição
municipal da educação na Ganda, tendo sido exonerado por suposto desvio
de fundos públicos calculados em largos milhões de dólares. Em
consequência disso, há cerca de quadro meses havia sido encarcerado na
cadeia do Cavaco, por ordem do Ministério Publico.
Estranhamente,
foi posto em liberdade provisória, com termo de identidade e
residência, quando os restantes implicados no mesmo processo-crime
permanecem detidos, a aguardarem o julgamento atrás das grades. É este o
novo «porta-voz» do MPLA em Benguela.
«Camaradas» desdramatizam
O
segundo secretário provincial do MPLA, Veríssimo Sapalo, em conversa
com o Semanário Angolense, desdramatizou a polémica em torno da ascensão
de David Nahenda, revelando ainda que as remodelações registadas foram
feitas em função das vagas deixadas por dois dos seus dirigentes.
Uma
das vagas foi deixada por Victor Moita, que é agora vice-governador,
obrigado a abandonar o seu cargo partidário por incompatibilidade
funcional, ao passo que a outra ocorreria por morte do titular, o
«camarada» Francisco Florentino, que era o secretário para administração
e finanças, lugar que será preenchido por Rosa Anastácia de Sousa.
«São
mudanças necessárias e esperamos que essas pessoas correspondam às
funções que foram indicadas», disse. Quanto a polémica da ascensão de
David Nahenda, Veríssimo Sapalo disse que o seu partido respeita aquilo
que é a visão exterior da questão, mas sublinha que essa visão pode não
ser a real.
«Somos daqueles que
acreditam que ninguém nasceu ‘quadro’. E como ninguém nasceu ‘quadro’,
resta-nos apenas trabalhar para corresponder às exigências que a
sociedade nos impõe», defende o segundo secretário provincial do partido
dos camaradas em Benguela. Questionado se o MPLA não teme que venha a
ser acusado de estar a dar cobertura a um militante com sérios problemas
judiciais, Veríssimo Sapalo disse o seguinte: «Sabemos que o processo
decorre os seus trâmites. Respeitamos o trabalho dos órgãos de justiça,
mas enquanto não for provado em sede do tribunal a sua culpabilidade, o
partido tem de seguir os seus estatutos, que defendem que não se pode
sancionar quem sobre si nada de mal foi provado».