Angola: Vítimas de massacre governamental de 1993 homenageadas pela primeira vez
- Categoria Política
- 07 janeiro 2015
Namibe - Pela primeira vez foi feita uma homenagem pública a centenas, senão milhares, de pessoas mortas pelas autoridades governamentais por ocasião onda de repressão que se seguiu às eleições de 1992 quando o país caminhava de novo para a guerra.
Fonte: VOA
A
5 de Janeiro de 1993, mais de 600 cidadãos foram assassinados na
província do Namibe, sendo que mais de 250 pessoas na cidade do Namibe e
outras 360 na cidade piscatória de Tombwa por asfixia, num contentor.
Desde aquela data, as famílias das vítimas nunca puderam chorar e
realizar o óbito de seus ente-queridos por ameaças das armas.
Agora,
pela primeira vez, as vítimas da referida chacina foram publicamente
homenageadas nas respectivas valas comuns onde jazem os seus restos
mortais.
O acto foi dirigido pelo secretário provincial da UNITA
no Namibe Ricardo Ekupa de Noé Tuyula, acompanhado por membros da
direcção, militantes, simpatizantes, amigos do partido, familiares das
vítimas e de alguns membros da sociedade civil. O evento decorreu sem
sobressaltos no cemitério Municipal do Calumbilo, sob a protecção da
polícia.
As mulheres entoaram cânticos mas também choraram pela
alma dos entes queridos, cuja vida foi amputada prematuramente pelo
simples factos de falarem e pensarem diferente.
Ricardo de Noé
Tuyula disse que o dia 5 de Janeiro é um marco histórico na provincia
do Namibe e não só, que jamais será esquecido por gerações vindouras a
julgar pela dimensão humana em que cerca de 600 pessoas foram
sacrificadas inocentemente.
Para o político da Unita, os
massacres são uma das estratégias antigas utilizada pelo regime com o
propósito de intimidar e ao mesmo tempo humilhar os angolanos que
reclamam a “liberdade e o respeito pela pessoa humana”.
Tuyula
rebuscou outros exemplos do passado recente, com realce para o 27 de
Maio de 1977, em que, segundo o dirigente do partido do galo negro, o
MPLA dizimou “mais de 40 mil pessoas entre militantes activos do seu
próprio partido”.
Tuyula referiu-se também ao que denominou de
“genocídio tribal de Luanda”, que culminou com o assassinato do
vice-presidente da Unita, Jeremias Calandundula Tchitunda, Salupeto
Pena, o secretário-geral Mango Alicerces, Chimbili e outros, assim como a
celebre sexta-feira sangrenta
No local, várias pessoas
prestaram o seu testemunho, falando o que viram e sentiram no pretérito 5
de Janeiro de 1993, tanto na cidade do Namibe, como no município
piscatório do Tombwa. Alegaram que pela dimensão das vidas humanas
perecidas, a data não pode passar de forma despercebida, impondo-se a
necessidade de se institucionalizar o 5 de Janeiro como “dia dos
mártires da repressão marxista em Angola”.
A actividade
estendeu-se aos dois cemitérios do Calumbilo na cidade do Namibe e do
Tombwa, respectivamente. O programa previa também o culto pelas almas
dos defuntos na paróquia de Santo Adirão, embora esta acção de graças
tenha sido contestada pelo partido no poder e o Executivo da província
do Namibe.