Director da DNIC impede investigação de assassinatos práticos por operativos sob seu comando
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Categoria Sociedade
- 02 fevereiro 2015
Lisboa - O director
nacional da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC),
comissário-chefe Eugénio Pedro Alexandre, é acusado de estar a impedir,
pessoalmente, a investigação criminal dos assassinatos de três jovens
indefesos, a 3 de Junho passado, no Golfe II, por operativos sob seu
comando, afectos à Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC).
Fonte: Club-k.net
A
7 de Dezembro passado, a DPIC promoveu uma acareação com as testemunhas
oculares do assassinato dos três jovens, a dois passos do portão da
casa de Helena Zua, que testemunhou a morte de dois jovens. A sua filha
Joice, assistiu à execução do irmão Damião Zua “Dani”, o primeiro a ser
assassinado pelos operacionais.
Joice contou, na altura ao Maka Angola, o
que aconteceu: O seu irmão Dani, que se encontrava no seu quarto,
pediu-lhe para ir atender a porta. Joice saiu à rua, ouviu um estrondo e
viu uma viatura Hyundai Accent imobilizada, com dois ocupantes, na
esquina da rua, enquanto um viatura Toyota Hiace bloqueava a estrada e
alguns dos seus ocupantes saíam armados. O seu irmão saiu de casa e
dirigiu-se ao carro, ao reconhecer que era um amigo que ia ao volante,
para ver o que se passava.
Segundo Joice, “os agentes deram dois
tiros para o ar, para afugentar as pessoas, e depois dispararam contra o
meu irmão. Um tiro atingiu-o na cabeça e outro na virilha”.
“Comecei a gritar ai, meu irmão! Ai, meu
irmão! O meu irmão levantou a cabeça olhou-me apenas e morreu. Eu
estava a gritar demais”, disse a irmã.
“Depois de matarem o meu filho, que foi o
primeiro e a poucos passos de casa, eu saí à rua ao ouvir os gritos da
minha filha. Eu reconheci o Sr. Vasco, da investigação criminal [Grupo
Operativo da 32ª Esquadra]. Eu vi o Sr. Vasco a disparar contra o carro e
a dizer para os outros recuarem”, explicou Helena Zua, na altura, ao
Maka Angola.
A mãe
enlutada reconheceu um dos membros do “esquadrão da morte”. “O Sr. Vasco frequentava muito este bairro. É muito conhecido aqui na zona. Eu conheço-o bem”.
Segundo Helena Zua, “eles vieram num
[Toyota] Hiace azul e branco que primeiro estacionou mesmo junto ao meu
portão. Desceram seis camaradas, deram dois tiros no ar e depois é que
começaram a matar os rapazes. Depois de muitos gritos da vizinhança,
eles meteram-se no carro, aos tiros, e foram.”
Do lado dos supostos autores do crime,
compareceram também, para além do agente Vasco e outros membros da sua
equipa, a comandante Maria Helena, da 32ª Esquadra, a partir da qual o
esquadrão da morte da DPIC tem actuado.
Todavia, a presença de um advogado da
Associação Mãos Livres, que acompanhava as famílias dos assassinados,
causou a suspensão, por tempo indeterminado, do processo. A investigação
criminal não queria que a acareação tivesse lugar na presença de um
advogado.
O Club-K soube, de fonte policial, que a
13 de Dezembro passado, o director nacional Pedro Alexandre, indeferiu a
tramitação do caso de processo de averiguação para processo crime.
Para o comissário-chefe Pedro Alexandre,
o caso deve ser tratado apenas pelo gabinete jurídico do Comando
Provincial de Luanda, como um mero processo de informação disciplinar.
Por outro lado, o mesmo director da DNIC
tem feito movimentos no sentido de instaurar um processo disciplinar
contra o agente policial que denunciou a operação de assassinato,
ilibando assim os seus autores e mandantes.
Qual é o suposto crime do agente que denunciou a operação?
O último jovem a ser morto, Manuel
Contreirias, pernoitara em casa do irmão mais velho Tiago Contreiras
que, na altura, era o primeiro subchefe do Posto Policial do Fubu, no
município de Belas.
Depois dos assassinatos, Tiago Contreiras foi chamado pelo oficial Beto Kinjila, chefe da Linha Operativa do Kilamba Kiaxi.
“O chefe Beto informou-me de que o grupo
operativo, comandado pelo Toledo, tinha abatido três marginais no Golf e
ordenou-me para ir com uma patrulha fazer a remoção dos corpos. Eu
disse que aquela zona era da responsabilidade da Unidade do Kilamba
Kiaxi e saí para cuidar de outra missão”, disse publicamente o subchefe
Tiago Contreiras, após o funeral do seu irmão.
Familiares seus dirigiram-se, minutos
mais tarde, ao posto policial para informá-lo que o seu irmão tinha sido
executado por agentes policiais.
“Só então me apercebi de que os meus
colegas mataram o meu irmão. Fui perguntar ao senhor Beto Kinjila sobre
quem matou aqueles três marginais. Nessa altura, ele [Beto Kinjila] já
sabia que os seus homens tinham matado o meu irmão. Então, ele disse-me
que eu estava a acusá-lo e que faria uma informação a pedir a minha
demissão e expulsão da polícia”, contou Tiago Contreiras.
“Eu conheço bem o Toledo, sabia que ele
ia ao volante do Hiace. E todos os outros elementos, depois disso,
vieram ao Posto. São colegas. Só não sabia que tinham assassinado o meu
irmão”, disse o policial enlutado no dia a seguir aos assassinatos.
O seu irmão vivia em Malanje e tinha
pedido apenas uma boleia até à estrada principal de Viana, onde
apanharia o autocarro de regresso àquela província. Tinha vindo visitar a
família por poucos dias.
Gosmo Pascoal Muhongo Quicassa “Smith”,
de 25 anos, proprietário da viatura, morreu ao volante atingido com 14
tiros, concentrados na parte esquerda do corpo.
Manuel Contreiras, de 26 anos, tinha
sido atingido apenas no pé. Desceu da viatura e implorou aos executores
que poupassem a sua vida. Explicou que tinha pedido uma boleia e
regressava à sua terra, Malanje, segundo testemunhas oculares.
“O assassino olhou-o apenas. O motorista
do Hiace desceu da viatura e com a AK atingiu o meu irmão no abdómen e
deu-lhe outro tiro na cabeça”, lamentou Samuel Contreiras, irmão do
malogrado.
Até hoje a polícia recusa-se a prestar
quaisquer informações públicas sobre os assassinatos e se havia razões
para tamanha barbaridade.
Também não se sabe qual é o interesse
pessoal do comissário-chefe Pedro Alexandre em encobrir o crime, para
além de que o seu mandato tem sido marcado por vários assassinatos
cometidos por homens sob seu comando, incluindo Alves Kamulingue.
Carlos Neto