Queda de Blaise Compaoré é uma lição para Eduardo dos Santos
Alemanha
- Depois da queda de Blaise Compaoré, receia-se um efeito de contágio
em países africanos com presidentes quase vitalícios e regimes
autocráticos, como Angola. Para manifestantes angolanos, o caso é uma
lição a ser tomada.
Fonte: DW
Da
lista de presidentes que estão há mais tempo no poder em África, e no
mundo, pelo menos um já foi pressionado a sair: Blaise Compaoré, que há
27 anos conduzia os destinos do Burkina Faso.
Restam agora os Presidentes José Eduardo dos Santos, de Angola, Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, Robert Mugabe, do Zimbabué e Paul Biya, dos Camarões, todos eles há mais de 30 anos na liderança.
A queda de Blaise Compaoré é vista com
uma atenção especial pelos países onde a população contesta também
longas permanências no poder.
Insurreição popular em Angola?
Em Angola, os jovens do chamado
Movimento Revolucionário, que exigem já há alguns anos a saída de José
Eduardo dos Santos, acreditam na possibilidade de acontecer uma
insurreição popular como a que aconteceu no Burkina Faso, uma vez que “o
povo está saturado”, lembra Adolfo Campos.
“O povo angolano está cansado da
política de José Eduardo dos Santos”, sublinha o jovem ativista
angolano, lembrando que o chefe de Estado angolano se encontra “há mais
de 35 anos no poder”.
Segundo Adolfo campos, o Movimento Revolucionário está já a analisar a possibilidade de organizar “uma manifestação que possa impugnar o poder de José Eduardo dos Santos”.
Segundo Adolfo campos, o Movimento Revolucionário está já a analisar a possibilidade de organizar “uma manifestação que possa impugnar o poder de José Eduardo dos Santos”.
O ativista está certo de que o
Presidente angolano receia uma ação para o depor e, por isso, na sua
opinião, implementou uma situação de terror no país ao criar uma guarda
pessoal militar muito bem preparada, a Unidade de Guarda Presidencial
(UGP).
Apesar disso, Adolfo Campos considera
que os descontentes não receiam esta força e a queda do Presidente
burquinabê é certamente “uma lição muito grande” para o Movimento
Revolucionário. “Afinal de contas aqui também existe a possibilidade de
tirar um ditador [do poder], uma vez que as Forças Armadas angolanas se
encontram vulneráveis”, afirma o ativista.
Consequências para o continente
Que consequências poderá ter a queda de
Blaise Compaoré para o continente africano? A possibilidade de um efeito
de contágio, à semelhança do que aconteceu com a chamada “Primavera
Árabe”, seria um exagero ou algo bem mais perto da realidade? “Poderá
ser as duas coisas”, explica Eugénio Costa Almeida.
O investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) lembra que se falava que as chamadas primaveras árabes podiam refletir-se no resto do continente africano, em situações onde a autocracia existe. No entanto, esse reflexo não chegou a observar-se noutros países africanos. Por isso, falar num efeito de contágio seria “um exagero” para o analista.
“Todavia, considerando que existem
alguns casos de poderes quase absolutos, nalguns casos autoritários na
região, penso que o que aconteceu no Burkina Faso pode ter alguma infl
uência e algum espelho noutros países”, argumenta.
No que se refere à situação angolana,
Eugénio Costa Almeida não acredita muito que os jovens que se opõem ao
regime consigam o mesmo que os burquinabes. José Eduardo dos Santos foi
eleito democraticamente e tem direito a candidatar-se ainda a um segundo
mandato, lembra o analista. Por outro lado, acrescenta, o ex-Presidente
Campaoré já alterou algumas vezes a Constituição para se manter no
poder.
Ainda assim, o analista luso-angolano
está certo de que o caso do Burkina Faso vai ajudar a alicerçar mais os
objetivos do Movimento Revolucionário. “Acredito que haverá jovens,
nomeadamente do chamado Movimento Revolucionário, que vão aproveitar o
que aconteceu no Burkina Faso para alicerçar as suas manifestações e os
seus poderes reivindicativos”.
Analistas dizem que o que aconteceu no Burquina Faso pode repetir-se em Angola
Os últimos acontecimentos que se
registaram no Burquina Faso e que culminaram com a deposição do
presidente Blaise Kampaore depois de 27 anos no poder podem ter lugar em
Angola, caso o MPLA não alterar a sua forma de agir, defendem os
analistas políticos da rádio Despertar. Os analistas consideram que a
realidade dos factos no Burquina Faso não se diferem muito da angolana.
O analista da Despertar e secretário para Informação do PRS Joaquim Nafoia pediu ao Presidente da República a ficar atento ao que se passa no Burquina Faso: "O nosso presidente deve tirar algumas lições porque todos os ditadores terminam desta forma, como aconteceu a Hosni Mubarak, Mobutu, Ben Aly, Khadafi, se o MPLA não se prevenir isso pode acontecer em Angola", disse.
O dirigente do PRS sustenta a sua
afirmação nos seguintes argumentos. "Nós estamos numa ditadura efectiva,
os activistas cívicos são assassinados, não se permitem manifestações,
os jovens são torturados e presos, os debates parlamentares não são
transmitidos, enfim, o presidente já fez o que o outro tentou fazer no
Burquina Faso, alterou a Constituição com o acórdão de 2005 do Tribunal
Supremo que dizia que José Eduardo dos Santos ainda não tinha cumprido
nenhum mandato no poder quer dizer que o seu mandato só começou em 2005"
No mesmo debate, esses argumentos foram
reiterados pelo politólogo Antonio Saúde Cabina, para quem “também em
Angola temos problemas de longevidade do Presidente da República com
manobras constitucionais para se manter no poder, também o nosso
presidente esta está rebocado nas legislativas talvez temendo que em
eleições separadas perderia; no Burquina Faso o outro tentou fazer a
mesma coisa só que o povo lá não deixou".
Para o jornalista e analista Alexandre
Solombe, é preferível que ocorra o mesmo em Angola para acabar com as
humilhações sofridas.