Fuga de capitais de Angola pode chegar aos dois mil milhões de euros por ano
Luanda
- A fuga de capitais de Angola poderá ter representado, anualmente,
cerca de sete por cento do Produto Interno Bruto (PIB), perto dos dois
mil milhões de euros, segundo estimativa apresentada em Luanda e baseada
em estatísticas internacionais.
Fonte: Lusa
Os
dados foram divulgados pelo diretor do Centro de Estudos e Investigação
Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, Alves da Rocha,
durante a apresentação do livro "Fuga de Capitais e a política de
desenvolvimento a favor dos mais pobres em Angola".
A análise contida nesta publicação, não
oficial, baseia-se em estatísticas e estudos internacionais, apontando
para uma fuga ilícita de capitais que em Angola poderá ter variado entre
os 384 milhões de euros e os dois mil milhões de euros, anualmente,
entre 2001 e 2010.
"Isto tem reflexos. Se é capital que
sai, vai alimentar outras economias, vai gerar empregos noutros países.
Quando nós também precisamos de investimento, de gerar emprego e
distribuir melhor e mais rendimento a quem de facto está em níveis de
sobrevivência", afirmou Alves da Rocha.
O livro agora editado, que conta com
contributos do português Paulo Morais sobre a situação em Portugal,
resultou de uma conferência internacional realizada em junho de 2013, em
Luanda, tendo então o ministério das Finanças estimado em apenas 17,5
milhões de dólares (14 milhões de euros) a fuga de capitais em Angola.
Números muito distantes dos que constam
da publicação hoje apresentada pela Universidade Católica de Angola,
sessão em que não marcou presença qualquer representante do Executivo
angolano.
Para Alves da Rocha, a "fraqueza dos
bancos" e "algum laxismo" na aplicação da lei, como na fiscalização da
saída de passageiros - e dinheiro - pelo aeroporto internacional de
Luanda, mas também uma retribuição de juros superior em depósitos em
dólares feitos nos paraísos fiscais, ajudam a explicar a situação.
No caso de Angola, se a fuga de capitais
fosse travada, permitiria uma redução direta anual de 2,11% na taxa de
pobreza, recorda o docente.
"Só por esta razão e não por outras, como a criação de emprego ou o crescimento do PIB", sublinhou o diretor do CEIC.
A publicação agora lançada reúne artigos
de investigação de nove académicos, entre angolanos, africanos,
europeus e sul-americanos, e discute temas como a fuga de capitais e a
redução da pobreza, o papel e a participação dos bancos na fuga de
capitais, a corrupção, além do regime jurídico angolano em matéria de
fuga de capitais.
Nos últimos 25 anos, estes
investigadores estimam que África perdeu anualmente 22,5 mil milhões de
dólares (18 mil milhões de euros) em fuga ilícita de capitais, superior
ao PIB de 60% das economias subsaarianas.