Parabéns Senhor Presidente!
Faz
exactamente, hoje, 35 anos, que por decisão do Comité Central do MPLA-
PT, o Senhor tomava posse aos cargos de seu Presidente, no de Presidente
da República e Comandante em Chefe das extintas FAPLA, na sequência da
morte, por doença, em Moscovo, do então Presidente da RPA, o Doutor
Agostinho Neto.
Eu, tinha apenas 2 anos de idade e hoje tenho a mesma idade que o Senhor tinha na altura, 37 anos!
Nasci
em 1977, o fatídico ano que registou a maior chacina da história do
nosso país, no rescaldo dos trágicos acontecimentos do 27 de Maio, cuja
Comissão de Inquério o Senhor chefiou, mas até aos nosso dias não se
conhecem as suas conclusões, nem as verdadeiras razões que estiveram na
base do banho de sangue que ceifou quase uma centena de milhar de
angolanos!
Os meus parabéns não são de regozijo, mas sim uma
forma de exprimir o meu repúdio e também a minha elevada preocupação
pelos efeitos nefastos da sua, excessivamente, longa governação
ditatorial assente no nepotismo, na corrupção, no clientelismo, e
noutros males que frenam o desenvolvimento de Angola e dos angolanos.
O
país está a braços com a maior crise socio- política e económica de
todos os tempos fruto das suas más políticas e práticas que, de um lado
excluem e submetem milhões de angolanos a condição de indigentes e até
mesmo miseráveis e, do outro lado, beneficiam os seus filhos, amigos e
membros da sua mouvance.
Segundo o mais recente relatório do
Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, publicado na última
Quarta-feira 17, Angola está no top de países com a mais alta taxa de
mortalidade infatil, devida a fraca capacidade do sistema de saúde em
garantir o acesso a cuidados básicos de saúde de qualidade, universal e
gratuítos às nossas crianças, bem como a graves problemas de saneamento
básico, ao difícil acesso à água potável e a ?vergonhosos problemas
nutricionais!
Enquanto isto, a sua filha, a Senhora Isabel dos
Santos, que diz ter começado a ganhar dinheiro a vender ovos, é
apresentada pela conceituada revista norte- americana Forbes, como sendo
a mulher mais rica de África, com uma fortuna avaliada em milhões de
milhões de Dólares, muitos deles sacados do erário público e outros
ganhos através de negócios monopolistas que exploram e roubam
desavergonhadamente os angolanos, a exemplo da UNITEL.
Ao seu
filho José Filomeno de Sousa dos Santos, sócio do misterioso Banco
Kwanza Invest, que não se sabe bem que papel desempenha nos sistémas
financeiro e bancário angolano, o Senhor atribuiu, em 2012, sem concurso
público, a gestão do Fundo Soberano, com capital inicial de cinco mil
milhões de Dólares, cujos actos de gestão não são fiscalizados pelo
Tribunal de Contas nem pelo Parlamento!
Aos outros dois seus
filhos, nomeadamente a Senhora Welwitschia Tchizé dos Santos e ao seu
irmão José Eduardo Paulino dos Santos, através de uma das suas várias
empresas, a Semba Comunicação, o senhor adjudicou, por ajuste directo, a
gestão do Canal 2 da Televisão Pública de Angola, violando a Lei da
Contratação Pública.
Em suma, graças às suas ostensivas práticas
de nepotismo, de pura promiscuidade e improbidades na gestão da coisa
pública, toda a sua prole goza de acesso privilegiado a todos os
recursos de que Angola dispõe e aos mais varaidos negócios, desde os
petróleos, passando pelos diamantes, banca, publicidade, cimento até a
recolha do lixo (!), tudo isto em contravenção ao que dispõe a
Constituição da Repúlica de Angola, em matéria de igualdade de
tratamento de todos os cidadãos, à Lei de Probidade Pública, bem como às
mais elementares regras éticas.
O Senhor tem governado Angola
sem legitimidade para tal, alías, basta recordar o seu papel na
subversão do Estado de Direito e na manipulação da vontade soberana do
povo, através de fraudes sistemáticas em toads as eleições até aqui
realizadas.
A sua ilegitimidade é refoçada pela forma autoritária
e discricionária como tem exercido o poder marcada por recorrentes
agressões e violações constantes à Constituição e a lei que o Senhor
jurou respeitar e defender.
São disso exemplos, para além dos
acima já mencionados, a violação grosseira dos direitos, liberdades e
garantias dos angolanos consagrados na Constituição da República de
Angola.
O controle e a manipulação dos meios de comunição social,
a intolerância política, o esbulho de terras, a excessiva violência
contra as Zungueiras e vendedores ambulantes, a brutalidade exercida na
repressão de manifestações pacíficas, a perseguição de activistas
cívicos, as mortes por motivações políticas em tempo de paz, fazem parte
das práticas abusivas e reiteradas que caracterizam o seu regime.
A
propósito, que conlusões é que o Senhor pretende que os angolanos tirem
da suposta promoção, à patente de Genaral, que o Senhor, na qualidade
de Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas- FAA terá procedido
ao Senhor António Gamboa Vieira Lopes, detido preventivamente, por
mandado do Ministério Público, pela sua implicção nas mortes dos
activistas cívicos Alves Kamulingui e Isaías Kassule?
Se a
cultura da morte não é prática do seu regime, o que nos dirá o Senhor
sobre as mortes de Ricardo de Melo, Nfulupinga Nlandu Victor, Alberto
Chakussanga, António Jaime, Armindo Sikaleta, Paulina Tchinossole, Zola
Kamuku, Filipe Chakussanga, Manuel Ganga e outros tantos que perderam as
suas vidas sob seu silêncio cúmplice?
A corrupção tornou-se a maior instituição de Angola, cujo Quartel-general encontra-se na Presidência da República.
O
Senhor sequestou o país e usa os seus órgãos e instituições de forma
fraudulnta para se perpetuar ilegitimamente no poder, prática que
configura crime.
Escrevo-lhe, pois esta missiva para exortá-lo a
demitir-se, tanto não seja para que tanto o Senhor, assim como seus
colaboradores que no uso indevido das prerrogativas das funções que
ocupam, envolveram-se em crimes de vária natureza, sejam amistiados e
perdoados pelos males, dores e sofrimentos que durante décadas a fio têm
infringido à maioria esmagadora dos angolanos.
Numa altura em o
culto da sua personalidade atinge as raias de um ridículo endeusamento,
escrevo-lhe no exercício da minha cidadania e com responsabilidade de um
angolano procupado com o presente, mas, sobretudo com o porvir, julga
ser imperioso ter a corragem de ir à contramarcha e alertar, sem curvas,
para os perigos iminentes.
Não tenho nada contra a sua pessoa e o
que lhe escrevo nesta missiva é a expressão de um sentimento
generalizado, partilhado até por oportunistas e hipócritas que o rodeam e
veneram, que tal como já o vimos noutros exemplos da história, serão os
primeiros a desembaraçar-se de si e, para lavar as mãos, quais Pôncio
Pilatus, inventarão estórias e até falsos testemunhos contra si.
Acho
que o Senhor vai a tempo de sair com alguma dignidade e garantir um
futuro tranquilo para si e para os seus. Não se tratará de um gesto de
fraqueza, antes pelo contrário, será um acto de patriótico de
transcendetal que pode alavancar o País rumo a uma transição pacífica,
nos marcos da Constituição da República de Angola.
Acho,
igualmente, serem estes o momento e a única forma que lhe restam para
ser lembrado na história como “um bom patriota”, de acordo com seu
desejo expresso publcamente.
A contento de todos, a sua demissão
não só é desejável e possível, mas tão necessária e, talvez muito mais,
do que foi a substituição do Doutor Agostinho Neto, há 35 anos!
Para terminar, felicito-lhe pelo seu 72o aniversário natalício.
Luanda, aos 21 de Setembro de 2014. -
Subscrevo-me
Alcibíades Kopumi
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