«Esta ainda não é a Angola que preconizamos», diz líder da UNITA
- Categoria Entrevistas
- 09 dezembro 2014
Luanda
- O Presidente da Unita, Isaías Samacuva está a fazer, uma vez mais,
uma digressão por vários países do mundo, segundo ele para contactar
amigos do seu Partido e cumprir compromissos internacionais. Nas
declarações públicas que fez, Isaías Samacuva não escondeu que o seu
Partido quer ser poder já no próximo pleito eleitoral e aproveitou a
oportunidade para criticar a política do Executivo liderado pelo
Presidente Eduardo dos Santos. Ele não ignora os benefícios da paz hoje
visíveis em vários pontos do País mas acha que se poderia fazer muito
mais se existisse mais verticalidade e honestidade dos políticos,
sobretudo daqueles que têm a responsabilidade de governar Angola.
Fonte: Figuras e Negocios
De
Cabo Verde, um dos pontos da sua passagem, Isaías Samacuva acedeu
conversar via email com o jornalista e director da revista, Victor
Aleixo. O relato da entrevista:
F&N Li que o senhor foi a Portugal para cuidar dos seus dentes. Não acredita na saúde do seu País?
Não será contransenso condenarem
os dirigentes do MPLA por volta e meia irem ao estrangeiro para tratar
da sua saúde e vocês, particularmente o senhor, na calada seguir a mesma
prática?
Isaías Samacuva (IS) Não é verdade.
Não saí do País para tratar dos meus dentes, nem vim a Portugal para
este efeito. O meu périplo começou na África do Sul, passei pela
Inglaterra e Portugal e agora estou em Cabo Verde. Como já deve ter
reparado pelas notícias que certamente são do conhecimento público,
tenho estado a cumprir uma agenda bastante carregada de contactos
privados e públicos que só vai terminar dentro de duas semanas.
Quanto ao Sector da Saúde do meu País,
eu gostaria de acreditar nele mas quando verifico que a maioria dos meus
compatriotas procura, sempre que reúna meios para tal, tratarse nos
hospitais da nossa vizinha Namíbia ou da África do Sul, do Brasil, de
Portugal ou de outros países, chego a pensar que algo está errado no
sistema de saúde do nosso País. Ademais, os próprios responsáveis do
País não se tratam nos nossos hospitais. São os primeiros a procurarem
os hospitais dos outros países. Acho que isso não resulta apenas da
busca do luxo mas porque o nosso próprio País ainda não consegue
satisfazer cabalmente as nossas necessidades no sector da Saúde.
Nós criticamos a prática de recorrer aos
hospitais do estrangeiro, porque gostaríamos de ver os nossos hospitais
com a mesma qualidade dos de fora. É que nem todos terão possibilidades
de procurar os hospitais de fora
do nosso País. Afinal, temos de olhar
para a maioria do nosso Povo que é pobre e que não tem possibilidades de
se deslocar para o estrangeiro. Por outro lado, potenciar os hospitais é
também contribuir para a economia do nosso País, porquanto as visitas
aos hospitais dos outros, facultamlhes empregos que, se nos tratássemos
no nosso País, deviam ser facultados aos nossos compatriotas.
Quanto a mim, pessoalmente, devo dizer
que, felizmente, a minha saúde ainda me permite estar ausente dos
hospitais, procurandoos apenas para os chamados “checkup”. Mas devo
dizer que, várias vezes, tenho sido aconselhado para evitar os nossos
hospitais, por motivos de segurança. Dizemme que nos comités de
especialidade há pessoas interessadas em saber onde costumo me tratar,
pelo que devia – acrescentam – fazêlo com as devidas precauções, caso
viesse a precisar de ir a um hospital. Veja onde chegamos!
F&N Não reconhece os
esforços que o governo tem feito na área da saúde? O que deveria ser
feito,na sua óptica e que o governo não faz de forma a credibilizarse a
saúde?
IS Por aquilo que constato quando
viajo pelo País, devo dizer que, nos últimos anos, o Governo desenvolveu
um programa que dotou o País com infraestruturas sanitárias que
poderiam minimizar as necessidades dos cidadãos no campo da saúde.
Infelizmente, um hospital não é apenas uma estrutura física. Os
hospitais são as estruturas físicas, os médicos(as), os enfermeiros(as),
o medicamento, as condições de trabalho criadas para o pessoal médico,
etc., etc. Porém, por onde temos passado, os cidadãos lamentam o facto
de que, segundo eles, os hospitais nem sempre têm profissionais da saúde
em número que facilite o atendimento. Do outro lado, dizem que os
hospitais não têm medicamentos e que, quando estes aparecem, acabam por
ser transferidos para as farmácias de dirigentes que os vendem a preços
que o cidadão comum não consegue suportar. Também as relações humanas
entre alguns profissionais de saúde e os pacientes são, de uma forma
geral, referidas como sendo péssimas, ou seja, os cidadãos queixamse de
ser mal tratados e de não encontrarem o acolhimento que um doente
precisa.
Do lado dos profissionais da saúde
também encontramos muitas queixas, principalmente no que diz respeito às
condições de trabalho e aos salários que lhes são atribuídos. Muitos
deles enfrentam dificuldades no que diz respeito ao seu alojamento lá
onde trabalham pois, em muitos casos, são originários de regiões ou
localidades distantes das do seu posto de trabalho. Outro aspecto que me
parece de extrema importância, é o facto de que a saúde passou a ser um
negócio muito lucrativo. Então, como consequência, verifico que, em
muitos casos, o profissional de saúde está mais preocupado com o número
de pacientes que atende por dia, ou seja, está mais preocupado com a
facturação diária e não tanto com a atenção que deve dispensar ao
paciente. Enfim, há uma série de
aspectos, uns mais importantes que os outros, que precisam da atenção
dos responsáveis deste sector tão importante para a vida dos cidadãos.
Mais investimento para ultrapassar as lacunas que mencionei e outras que
não mencionei. Também precisamos de mais humanismo, mais solidariedade e
de mais carinho dos que tratam da nossa saúde. Estes são apenas alguns
aspectos de que a nossa saúde carece.
F&N O senhor foi muito
crítico na réplica à Mensagem sobre o Estado da Nação do Presidente
Eduardo dos Santos. Justificase assim tanta rispidez? Não teme que essa
linguagem musculada, muito frequente nas declarações de dirigentes dos
dois maiores partidos politicos, possa minar o caminho da reconciliação
dos angolanos?
IS Honestamente falando, acho que o
problema com que nos confrontamos é saber se devemos chamar as coisas
pelos seus verdadeiros nomes com o objectivo de chamar a atenção de quem
precisa entender que não aceitamos ser ludibriados ou se apenas nos
devemos calar perante tanta mentira, tanta desonestidade e tanta
injustiça para agradar quem nos quer ver ludibriados. A minha réplica ao
discurso do senhor Presidente da República sobre o Estado da Nação
consistiu apenas em transmitir o nosso ponto de vista sobre o Estado da
Nação. Sendo réplica, teve de se basear nas afirmações do senhor
Presidente da República, expondo os nossos pontos de vista que, por
sinal, são diferentes dos do senhor Presidente. Naturalmente, tivemos de
dizêlo, explicando e fundamentando as razões que marcam a diferença
entre o nosso ponto de vista e o do senhor Presidente.
Acho que o relacionamento entre a UNITA e
o MPLA precisa de ser revisto na medida em que, ao invés de viverem o
presente, há sectores que estão continuamente fixados no passado. Uns e
outros precisam de compreender que Angola é o nosso berço comum e que
ninguém é mais que o outro. Todos somos filhos deste País, todos temos
os mesmos direitos e deveres e que, sobre o passado, culpados fomos
todos, vítimas fomos todos e responsáveis fomos todos. Agora, temos de
virar a página e fixarmos os nossos olhos no futuro que deve ser
construído cada dia que passa com actos práticos que consolidam o
processo de reconciliação nacional. O futuro a que me refiro, não será
construído e nunca chegará se alguém pensar que os outros vivem graças a
ele. Do mesmo modo, este futuro nunca será presente se for baseado na
bajulação, na falsidade e em estereótipos. A reconciliação nacional
exige frontalidade, verdade, justiça e reconhecimento mútuo que gera
respeito mútuo.
F&N O senhor tem feito
digressões pelo interior do País e tem sido alvo de banhos de massa. É
isso que o faz acreditar que está próximo o caminho para se tornar
Presidente da República?
IS De facto tenho viajado pelo País
inteiro e constato com satisfação que a implantação da UNITA no País é
satisfatória e que esta granjeia do apoio cada
vez maior de uma grande franja do Povo Angolano. É verdade que por todo
o lado por onde temos passado, somos alvos de grandes banhos de massas
populares. Esta realidade, infelizmente, dada a parcialidade que
caracteriza os meios de comunicação social públicos, é pouco conhecida
no País. Devo dizer que apesar desta realidade, que para nós é bom
sinal, vamos continuar a trabalhar para garantirmos a vitória do nosso
partido nas próximas eleições.
F&N O adiamento da
realização das eleições autárquicas não é consequência da falta de
estratégia das forças políticas que não sabem fazer "os deveres de casa"
e se preocupam com as acções em "cima do joelho", quando se sabe que
até agora o pacote jurídico para sustentar esse processo não foi feito?
IS Quanto a mim, pessoalmente, o
adiamento da eleições autárquicas resulta apenas da falta de vontade
política do senhor Presidente da República. Penso que não se pode culpar
mais ninguém. A oposição fez e tem feito o que pode fazer para que as
eleições autárquicas fossem realizadas. Sabendo que a sua realização, no
nosso País, ainda carece de um pacote legislativo que regule diversos
aspectos que o processo e o sistema autárquico requer, além de pressões
de vária ordem, a UNITA apresentou à Assembleia Nacional uma proposta de
lei como forma de pôr em andamento o processo das eleições autárquicas.
Esta proposta foi mantida em silêncio, pela Assembleia Nacional,
durante muitos meses e depois de muita pressão foi levada ao plenário só
para ser chumbada e não para ser debatida. Do outro lado, as condições
mencionadas recentemente pelo senhor Presidente da República como sendo
essenciais para a preparação do processo autárquico, englobam questões
básicas que todos já sabiam ser indispensáveis para se organizar
eleições autárquicas. Por isso, só a falta de vontade política – para
não dizer falta de honestidade – que justifica esta manobra. Alguns
dirão que a pressão que tem sido feita não é suficiente ou que não é a
mais adequada, pelo que devíamos levantar o Povo para manifestar,
exigindo a realização das eleições autárquicas. Também é uma forma que,
entretanto, nós reservamos para último recurso, dadas as consequências
colaterais que tal caminho pode originar. Nas nossas decisões, nós
procuramos ter sempre em mente, o nosso (nós os angolanos) passado
recente e agir com ponderação e responsabilidade.
Através dos grupos parlamentares, temos
mantido contactos na Assembleia Nacional sobre este assunto. O nosso
objectivo é exatamente de adotar estratégias comuns para contornarmos a
posição do partido maioritário.
F&N Como está a "saúde" da Unita, atendendo que tenho lido nos jornais que o Partido está a perder vários militantes?
IS Como já disse atrás quando me
referi aos banhos de massas a que a UNITA tem sido submetida nos últimos
anos, posso dizer que a "saúde" da UNITA
está boa. É por isso que de tempos em tempos, o partido que sustenta o
Poder fabrica histórias de deserções de militantes da UNITA. Na
realidade, estas histórias são mesmo fabricações. Vou citar dois
exemplos que foram recentemente referidos pela Comunicação Social
Pública:
• – Fez mais ou menos um mês e meio ou
um pouco mais, quando a TPA passou uma peça onde anunciava que mais de
mil militantes da UNITA, da comuna da Chinhama no município de
Kachiungo, Província do Huambo, teriam passado para o MPLA. Na tentativa
de sustentar esta afirmação, passou imagens do que teria sido um
comício de apresentação dos referidos desertores da UNITA onde,
entretanto, só falaram dois indivíduos, aparentemente chefes do grupo
desertor. Porém, quando solicitamos dados sobre essa peça veiculada pela
TPA, apuramos que na área referida não houve nenhuma deserção e que os
dois indivíduos que foram postos a falar eram antigos militares das
exFALA que se passaram para o MPLA desde que foram capturados nos anos
80.
• – Também fez mais ou menos um mês,
quando o senhor Governador da Província do Bié mandou concentrar
cidadãos de várias comunas do Município do Andulo, no município sede,
com a promessa de que iam receber fertilizantes. Metidos nos camiões com
a ajuda da Polícia e postos no Andulo, foramlhes distribuídas
camisolas com símbolos do MPLA e levados a seguir para um comício onde
foram apresentados como sendo militantes da UNITA que tinham decidido
passar para o MPLA. O mais caricato desta cena é que no fim do referido
comício estes populares foram abandonados à sua sorte e tiveram que se
dirigir ao comité da UNITA no Andulo para solicitarem transporte para
regressarem às suas origens!
Estas cenas organizadas pelos
responsáveis do MPLA que ostentam, ao mesmo tempo, o nome de governantes
destinamse exactamente a passar e criar a ideia de que a UNITA está a
morrer. A verdade é completamente diferente. A UNITA está de pé e a
crescer, graças ao trabalho de mobilização que tem trazido ao partido
novos membros vindos de outros partidos, sobretudo do MPLA . Outros vêm
de sectores de angolanos que até agora nunca tinham filiação em nenhum
partido político .
F&N Como "adormeceu" a
oposição que contestava o seu prolongar de mandato à frente da Unita?
Vai continuar a ser Presidente do Partido até quando?
IS Não preciso de "adormecer" ninguém
dos que contestam a minha presença na direcção da UNITA. Também não sei
se há alguém que tenha sido adormecido. Creio que todos compreendemos
que as campanhas têm o seu tempo e que, agora, é tempo de trabalharmos
juntos para fortalecermos o nosso Partido. Os congressos têm o seu
tempo. Eles são realizados de quatro a quatro anos e uma das suas
tarefas é eleger o Presidente do Partido (nr. 5 do Artigo 22 do Estatuto
da UNITA). No próximo ano de 2015, por exemplo, vamos ter Congresso e
aqueles que querem ter o cargo de
Presidente da UNITA, podem candidatar se e submeterse ao voto dos
militantes. Este processo é claro e aberto e tem sido conduzido com
muita transparência. Quanto à minha pessoa, acho que ainda é cedo para
dizer o que vai acontecer depois do nosso Congresso. Prefiro concentrar a
minha atenção no trabalho que me é exigido pela necessidade de
continuarmos, como já disse atrás, a fortalecermos o partido. Se este
estiver forte, todos beneficiaremos disso. Tanto os que saem como também
os que ficam na direcção do Partido.
F&N Angola completa agora
39 anos de independência. Valeu a pena esse percurso? Este era o País
que o senhor imaginava há trinta e nove anos atrás? Quais devem ser os
próximos desafios do País e que contribuição a Unita pode dar, no poder
ou na oposição?
IS Estamos de facto no mês da
independência do nosso País. Ela, a independência, foi uma das maiores
conquistas dos angolanos. Creio que, apesar dos conflitos que nos
dividiram e que ainda nos dividem, valeu a pena termos lutado e
conquistado a independência do nosso País. Agora se este é ou não o
percurso que desejava, ou se esta é ou não a independência que esperava,
devo dizer claramente que não. Eu imaginava que uma Angola independente
seria diferente da que vemos. Esperava que a independência criasse
melhores condições de vida para todos os angolanos ou para a maioria dos
angolanos. Esperava que a independência promovesse maior unidade entre
os angolanos; que houvesse maior consideração pelo angolano, dandolhe
prioridade na solução dos problemas que dificultam a vida. Enfim,
esperava que o angolano fosse sempre o primeiro, o segundo, o terceiro e
sempre. Alguém dirá que isso não acontece por causa da guerra mas eu
direi que a guerra que já terminou há doze anos, já não pode justificar
tudo. Creio, entretanto, que grande parte dos países do Mundo, mesmo os
avançados, tiveram também períodos conturbados na sua história.
Portanto, estou optimista quanto ao futuro. Creio que dos escombros
vamos erguer uma Angola próspera e digna. A UNITA tem procurado dar a
sua contribuição e vai continuar a fazê lo. Há o desafio da
reconciliação nacional que é muito grande mas está à medida dos
angolanos. Outro desafio é o da justiça social. Acho que a distribuição
da renda nacional deve ser mais justa para que todos os filhos ou pelo
menos a maioria dos filhos do nosso país, possam viver com dignidade.
F&N Se um dia chegar a Presidente da República,qual será a sua primeira tarefa?
IS A primeira coisa que eu faria, se
um dia fosse Presidente da República, é materializar o desejo de me
colocar acima de todos os partidos e ser verdadeiramente presidente de
todos os angolanos. Esta é uma condição psicológica, política e social
necessária para enfrentar outros desafios que a figura do Presidente da
República tem na condução do País.
F&N Qual o objectivo dessa sua digressão ao exterior do Pais?
IS O objectivo desta minha digressão a
países africanos e europeus, resulta da necessidade de executarmos
tarefas que nos foram consignadas pelos órgãos competentes do Partido e
para satisfazermos convites que recebemos de amigos e não só, no decurso
deste ano. A minha delegação é constituída, além de mim próprio, pelo
Deputado Alcides Sakala, Secretário para os Assuntos Internacionais da
UNITA e pelo Adalberto Costa Júnior, Vice Presidente do nosso Grupo
Parlamentar. Vamos também participar na reunião anual da Regional África
da Internacional Democrática do Centro(IDC), que é a família política
Internacional a que pertencemos. Como vê, somos apenas três para uma
missão tão importante e que envolve vários assuntos. Para o bom
cumprimento da nossa missão, temos trabalhado noite e dia.
F&N Não acha que esta é uma forma de lavar a "roupa suja" de casa fora das fronteiras de Angola?
IS Como sempre acontece, também agora
temos lido aqui e acolá o que esta nossa viagem tem suscitado no nosso
País. Há mesmo quem diga que estamos aqui a fazer queixinhas aos nossos
interlocutores. Outros dizem que estamos a fazer o que se assemelha a
“lavar a roupa suja fora de casa”. Outros ainda andam a deturpar os
nossos pronunciamentos, procurando incitar ódio! Estamos habituados a
esta agitação. A verdade é que não dissemos nada que não tivéssemos dito
já, frequentes vezes, no País. Gostaria de aproveitar este espaço para
dizer que se alguém ainda pensa que o mundo ignora o que se passa em
Angola, então este deve estar a enganarse a ele próprio. Com o
movimento de estrangeiros que entram e saem de Angola; com embaixadas
sedeadas em Angola; com tanta gente que enche os aviões que vão e saem
de Angola, ainda alguém pensa que os centros do poder, ou os diversos
sectores da opinião internacional ignoram o que se passa em Angola?
Acham que estes que acabei de mencionar estão à espera dum Samacuva para
lhes dizer o que se passa em Angola? Alguém acha que analistas, homens
de negócios, governantes, se orientam apenas por aquilo que encontram no
Jornal de Angola ou escutam na TPA? Alguém ainda ignora que o Mundo
passou a ser uma aldeia global onde tudo o que se passa se espalha em
minutos pelos corredores e pelos bairros dessa aldeia? Ou então o que se
procura é o nosso silêncio perante o sofrimento e o aplauso barato,
bajulador e conivente perante a desgraça do nosso Povo?
F&N Num tempo de apertar
cintos, o senhor faz uma digressão pelo mundo. Isso não fica muito
caro?Ou quer demonstrar que a Unita, afinal, continua a ser um Partido
muito rico?
IS Ao invés do que se procura fazer
crer, a UNITA que conheço, nunca foi um partido rico. Teve uma fase
curta da sua história em que esteve de certo modo folgada mas sempre com
dificuldades enormes. O que a UNITA sempre
fez é gerir bem os seus recursos, direcionandoos para aquilo que é de
mais prioritário para a sua existência. Com as responsabilidades
materiais e humanas que a UNITA sempre teve, não teria conseguido
sobreviver se esbanjasse os seus recursos como outros fazem. Por causa
da discriminação praticada no País, ainda hoje, a UNITA tem sido forçada
a dispender os poucos recursos que tem em várias situações que deviam
ser da responsabilidade social do governo. Às vezes pensamos que tudo
isso é feito para nos dificultarem a vida. Entretanto, com o pouco que
conseguimos, temos procurado fazer tudo, incluindo consentir alguns
sacrifícios, para continuarmos a ter o nosso Partido de pé. Aliás, como
disse atrás, a minha delegação é apenas de três pessoas, eu próprio,
inclusive. Portanto, o apertar o cinto continua. E não é só para uns e
outros não. É para todos.
F&N Falenos da "saúde"
financeira da Unita. Como estão as minas de diamantes que explora? Acha
correcto um partido político beneficiar dessa facilidade de explorar,
para seu proveito próprio, uma riqueza nacional?
IS Que eu saiba, a UNITA não explora
diamantes nenhuns. O que existe é uma companhia constituída por alguns
membros da UNITA e que tem uma concessão para explorar diamantes. Também
que eu saiba, este processo tem encontrado diversos obstáculos que
ainda não foram ultrapassados.
F&N A Unita diz que vai
ser poder nas próximas eleições, a CASA CE também diz a mesma coisa. Se o
senhor não ganhar as eleições e perder o estatuto de segundo maior
partido da oposição, pela CASA CE demitese?
IS Do lugar de segundo maior partido, a
UNITA só passará para o lugar do primeiro maior partido. Esta é a nossa
aposta. Este é o desafio que está à nossa frente. Assim sendo, acho que
a segunda parte da sua questão dispensa resposta.