Ex- Presidente do BESA diz que perdeu o rasto da irmã de José Eduardo dos Santos
- Categoria Economia
- 11 fevereiro 2015
Lisboa - A
Associação Transparência e Integridade assegura que não é difícil
perceber quem são os destinatários dos empréstimos concedidos pelo BES
Angola, e a que o banco alegadamente perdeu o rasto.
Fonte: Lusa
Paulo Morais diz que tem documentos capazes de contrariar o ex-banqueiro
Esta
terça-feira, Rui Guerra, o ex-Presidente do BES Angola, disse aos
deputados da comissão parlamentar que investiga o caso BES, que o banco
não foi capaz de identificar os beneficiários de muitos dos empréstimos
concedidos pela instituição e que estes já estavam em incumprimento
antes de o Estado angolano conceder uma garantia. Em causa podem estar
mais de 5,7 mil milhões de euros.
Mas Paulo Morais, vice-presidente da
Associação Transparência e Integridade, contesta os argumentos de Rui
Guerra e acrescenta que tem documentos capazes de contrariar o
ex-banqueiro.
“Nessa lista de empréstimos estava, à
cabeça, a Marta dos Santos, irmã do presidente José Eduardo dos Santos,
que teve um crédito de 800 milhões de dólares, para desenvolver em
Talatona um projecto imobiliário, curiosamente em parceria com o
empresário português José Guilherme, o tal que deu os 14 milhões a
Ricardo Salgado.”
“Só no Comité Central do MPLA houve todo
um conjunto de personalidades, como Roberto de Almeida, e Ferreira
Pinto, entre outros, que receberam 10 milhões de dólares para
desenvolver os projectos que bem entendessem, sem terem de prestar
quaisquer garantias ao banco”, acrescenta.
Investimentos em Portugal feitos com dinheiro do BES
Paulo Morais diz à Renascença que muitos
dos investimentos angolanos em Portugal foram feitos com esse dinheiro
emprestado pelo BES Angola: “Há um aspecto ainda mais perverso. Muitos
dos investimentos que a elite angolana fez em Portugal, que foram
vendidos como sendo dinheiro angolano que vinha para Portugal, de facto
não era. Era dinheiro dos depositantes do BES, disponibilizada à elite
angolana para adquirir em Portugal propriedades, imobiliário. Os
próprios filhos de José Eduardo dos Santos têm uma propriedade em
Aveiras de Cima, que adquiriram com crédito do BES, mas isto
multiplicou-se por todo o país.”
Paulo Morais lamenta que nada esteja a
ser feito em Portugal em relação a esta situação: “O que é
incompreensível é como o Estado português não faz exercer os seus
direitos, desde logo confiscando as propriedades compradas com este tipo
de empréstimos. Relativamente aos empréstimos utilizados em território
angolano, é evidente que a situação é mais difícil, mas dadas as óptimas
relações que existem entre os dois Governos, teria de haver uma manobra
diplomática para recuperar esses milhares de milhões de euros, que
neste momento representam um prejuízo no BES e no Novo Banco, e que
teriam de ser recuperados”, diz Paulo Morais.
O Vice-Presidente da associação
Transparência e Integridade considera pouco plausível o argumento do
ex-presidente do BESA, que diz não ser possível identificar os
destinatários dos empréstimos concedidos pelo banco. Em causa podem
estar mais de 5,7 mil milhões de euros que o BESA nunca recuperou.