"Financial Times" ataca elite política angolana
- Categoria Política
- 08 março 2015
Luanda - Um artigo do
jornal britânico Financial Times(FT) acusou na sexta-feira, 6, os
dirigentes angolanos de formarem uma elite indiferente à pobreza da
população. Para um dos mais importantes diários de economia a nível
mundial, Angola é uma "cleptocracia".
Fonte: Lusa
No
texto assinado por Simon Kuper "Porque o Ocidente adora um
cleptocrata", lê-se que "os oligarcas deixam gorjetas de 500 euros nos
restaurantes da moda em Lisboa, enquanto cerca de uma em cada seis
crianças angolanas morre antes de completatar cinco anos".
"Mesmo pelos padrões dos Estados
petrolíferos, Angola é quase risivelmente injusta", continua o
articulista, para quem "os oligarcas angolanos habitam a economia do
luxo global das escolas públicas britânicas, dos gestores de activos
suíços, das lojas Hermès, etc".
O artigo do FT surge na sequência do
lançamento em Londres na passada terça-feira, 3, do livro "Magnificent
and Beggar Land: Angola Since the Civil War", do professor de Oxford
Ricardo Soares de Oliveira.
"Por trás de cada magnata angolano há
uma equipa de gestão maioritariamente portuguesa", que não se preocupa
com as consequências da sua gestão, "por isso os estrangeiros bombam
petróleo, fazem luxuosos vestidos e constroem aeroportos sem sentido no
meio do nada", lembra o texto, citando o livro de Soares de Oliveira,
que é referido como tendo reparado em fortes contrastes na sociedade
angolana.
"A clique dirigente consiste largamente
numas poucas famílias de raça mista da capital, Luanda, que considera
que os cerca de 21 milhões de angolanos negros no mato ou musseques são
imperfeitamente civilizados, e com pouco desejo para os educar",
continua Simon Kuper, lembrando ainda que "são os expatriados que fazem a
economia angolana mexer, desde as consultoras que ajudam a definir a
política económica até aos bancos que financiam os negócios."
Kuper atira-se também aos Governos
ocidentais, que, segundo ele, aceitam a cleptogracia angolana com quem
fazem negócios sem olhar ao contexto político do país.
"A elite fez a festa durante o
crescimento do petróleo, conclui o artigo, segundo o qual "o provável
impacto no regime do colapso nos preços é pouco, porque só se está a
alimentar uma pequena percentagem do povo, 50 dólares por barril chega e
sobra".
Numa entrevista à VOA na passada
quarta-feira, 4, o autor do livro "Magnificent and Beggar Land: Angola
Since the Civil War", Ricardo Soares de Oliveira considerou que Angola
tem de diversificar a sua economia urgentemente para não hipotecar o seu
futuro.
Para Soares de Oliveira, o crescimento
económico de dois dígitos da última década contribuiu para a melhoria do
país, mas não teve o impacto que podia ter na estruturação da ecomomia,
embora o país vá a tempo de mudar o rumo da sua política económica.