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martes, 17 de julio de 2018

Discurso de abertura do Seminário sobre Autarquias Locais - Dr Isaías Samakuva

Discurso de abertura do Seminário sobre Autarquias Locais - Dr Isaías Samakuva
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Exmo. Sr. Vice Presidente da UNITA, Dr. Raul Manuel Danda,
Exmo. Senhor Secr Geral da UNITA, Franco Marcolino Nhany
Exmos. Srs. Membros da Direcção da UNITA
Exmos. Senhores Deputados à Assembleia Nacional
Ilustres Representantes de Partidos Políticos
Dignos representantes da Sociedade Civil
Dignos Representantes de Igrejas
Prezados convidados
Estimados quadros e membros da UNITA dos vários municípios do País
Minhas senhoras e meus senhores:

É com profunda satisfação que transmito, em nome da Direcção da UNITA, as minhas cordiais saudações a todas as entidades que se dignaram prestigiar este evento com a sua presença.

Saúdo em particular o Presidente da Câmara de Quelimane, o Dr. Emanuel Chinembiri Becape que vieram a Angola partilhar com os seus irmãos angolanos as suas experiências na gestão dos assuntos públicos locais.

Quero destacar ainda a presença dos cientistas sociais e especialistas em governação local da SADCC, designadamente a Dra. Patience Zonge Hwenha e o Dr. Joe Mavuso, Assessor de Formação e Desenvolvimento na Escola Nacional de Governo, do Governo da África do Sul, que durante as últimas décadas têm trabalhado na capacitação dos cidadãos e da sociedade civil para promover e manter a democracia em África.

Minhas senhoras e meus senhores:

Depois de conquistar a independência e o arcabouço constitucional para um Estado democrático de direito, os angolanos lutam agora pela concretização da Constituição no que respeita à institucionalização efectiva das autarquias locais, previstas na Constituição desde 1992.

O parto das autarquias em Angola tem sido muito difícil e por vezes doloroso. Ora dizem-nos não haver condições para realizar eleições autárquicas nos mesmos municípios onde já se realizam eleições gerais, ora dizem-nos não haver infraestruturas nos mesmos municípios onde já funcionam administrações municipais com gestores públicos que não representam as populações nem prosseguem os interesses públicos locais, ora dizem-nos não haver recursos nos mesmos municípios onde se produz a riqueza nacional.

Incapazes de parar o clamor do povo pela institucionalização imediata das autarquias locais, os adversários da autonomia local resolveram agora condicionar a sua obediência à Constituição e querem arbitrariamente estabelecer as autarquias em apenas alguns dos municípios, quando a Constituição é inequívoca ao afirmar que “as autarquias locais organizam-se nos municípios”, e não em alguns municípios.

Aos nossos visitantes talvez espante esta posição, mas aos angolanos ela não mais espanta, porque testemunham todos os dias as múltiplas violações à Constituição e à lei da parte de quem as devia proteger e fazer cumprir.

A independência de Angola não estará completa sem os cidadãos exercerem de facto o poder local, lá onde residem. A estruturação democrática do Estado não estará completa sem as autarquias locais, porque, como afirma a Constituição, a organização democrática do Estado ao nível local estrutura-se com base no princípio da descentralização político-administrativa, que compreende a existência de formas organizativas do poder local. E a principal forma organizativa do poder local, a única representativa das populações, aquela que tem o direito de participar na gestão dos assuntos públicos locais, são as autarquias locais.

O parto será difícil, mas a democracia vai triunfar. Tudo depende de nós. Os angolanos já conquistaram, com perseverança e patriotismo, o direito de exercerem o poder local em todos os municípios do país. Falta apenas concretizar esse direito.


Prezados companheiros:
Enquanto o partido estado continua a distrair as pessoas com conceitos, visões e terminologias que subvertem a democracia, nós vamos avançar com a preparação dos primeiros autarcas, porque a marcha pela autonomia local é já imparável. De facto, o tempo dos bairros sem saneamento básico que se tornaram viveiros da malária e da cólera, acabou. O tempo das crianças sem escola só porque os governantes desviam o dinheiro da educação, acabou. O tempo das casas sem água potável canalizada e sem energia para iluminação acabou. O tempo dos administradores de um só partido, não eleitos pelo povo, acabou. O tempo dos roubos institucionalizados e do lixo a céu aberto, à vista de todos, sem pudor nem controlo, acabou.
O povo já decidiu. Acabou o tempo da concentração e chegou o tempo da descentralização. Acabou o tempo da discriminação e chegou o tempo da inclusão, da participação de todos na governação democrática.

Este seminário foi programado para nos preparar. O seu principal objectivo é alargar a base de conhecimentos dos dirigentes e quadros do Partido para capacitá-los na mobilização dos cidadãos para o importante papel que os cidadãos terão no exercício democrático do poder local.

O seminário visa também capacitar um grupo de formadores para entender a estrutura orgânica e funcional das autarquias, suas atribuições e competências, regime financeiro e regime de tutela, à luz do princípio estruturante da autonomia local.

No final do Seminário, os participantes serão capazes de, entre outras coisas:

? Compreender e explicar o papel da política e do cidadão numa democracia e as razões porque todos devem participar na administração dos assuntos públicos locais.

? Articular os papéis associados ao exercício do poder local democrático numa democracia.

? Compreender as razões porque os princípios estruturantes da democracia participativa, da soberania popular e da autonomia local, bem como o direito fundamental de sufrágio impõem a institucionalização efectiva das autarquias locais em todo o país.

? Listar os vários atributos de liderança requeridos na conduta de um Autarca.

? Traçar estratégias para participar das eleições Autárquicas e lançar uma campanha credível.

Serão capazes ainda de rejeitar com propriedade a noção de gradualismo territorial na implementação das autarquias locais, identificar armadilhas na legislação proposta e compreender os mecanismos pelos quais o Estado financia as autarquias locais.

Companheiros:
A nossa prioridade número um é assegurar a institucionalização efectiva das autarquias obrigatórias, as autarquias municipais, em todo o país, em 2020, como anunciou o senhor Presidente da República e combater a subversão do gradualismo que tem sido pregada dentro e fora do País.
Angola não pode permitir que o MPLA transforme a maioria dos seus filhos em súbditos feudais ou súbditos neocoloniais até 2035, enquanto uma minoria é considerada cidadãos de uma República.

Esta divisão atenta contra a independência nacional, atenta contra a unidade da Nação e ofende a Constituição da República de Angola.

A implementação do processo autárquico vai permitir que os angolanos exerçam a cidadania que lhes tem sido negada ao longo dos anos. A cidadania é um conjunto de direitos usufruídos de forma igual pelos membros que compõem uma sociedade, Ela comporta três dimensões, sendo a dimensão civil que envolve o direito às Liberdades individuais, como a liberdade de expressão, de pensamento, de religião, de justiça e de propriedade; a dimensão política que envolve o direito de participação no exercício do poder politico e a dimensão económica que envolve os direitos económicos, de segurança social e os de ter uma vida condigna nos moldes prevalecentes na sociedade em que o cidadão habita.

A cidadania assim entendida, representa a ideia de inclusão associada com uma forma de titularidade de direitos de membro de um País dentro do qual cada um reclama esses direitos. Ela comporta a ideia de universalidade pelo que, num mesmo país não deve haver cidadãos de primeira e outros de segunda classe.

Assim, a UNITA é chamada mais uma vez a defender os interesses do povo.

Os angolanos todos, de Cabinda ao Cunene, devem ser informados e mobilizados para rejeitar as autarquias do MPLA e seu gradualismo distorcido. Queremos as autarquias do povo, sem gradualismo destorcido.

Angola não pode permitir que o Partido estado reproduza hoje, no século XXI, a divisão social das pessoas como os colonialistas faziam, considerando os europeus e os assimilados com direitos especiais de cidadania, e os filhos dos indígenas, sem direitos de cidadania. Naquela altura, só os primeiros tinham direito à autonomia local e podiam participar nas eleições autárquicas. Os indígenas não. Hoje somos independentes, somos todos angolanos, com direitos e deveres iguais. Todos têm o direito constitucional de exercer o poder local na sua autarquia, ao mesmo tempo. Não há angolanos de primeira e angolanos de segunda.

Assim como o princípio da autodeterminação dos povos serviu de base para os angolanos proclamarem em 1975 o Estado independente em todo o espaço territorial de Angola mesmo sem haver condições ideais para o autogoverno em todos os seus municípios, agora em 2018, dezasseis anos depois da paz, o legislador ordinário está obrigado a estabelecer as autarquias municipais em todo o território nacional mesmo que considere que não haja condições ideais, ou iguais, em todos os municípios.

Companheiros:

O Estado sozinho não conseguirá nunca resolver a imensidão dos problemas sociais e económicos que assolam o País. Os cidadãos organizados nas suas autarquias são chamados agora a participar.
Os angolanos continuam à espera que a UNITA defenda os seus interesses e traga a verdadeira mudança em Angola. Uma mudança democrática, segura e pacífica, com grandeza moral e ética republicana.
Vamos nos preparar para exercer o poder local nos termos da Constituição.

Vamos preparar o nosso país para o combate pela democracia participativa.

Declaro aberto o Seminário de capacitação de quadros sobre as autarquias locais.

Muito obrigado.