Bonga
apela coerência e exigência da democracia
O cantor angolano Bonga considera que o Presidente
angolano, José Eduardo dos Santos, que não se apresenta às eleições em
Angola, previstas para Agosto próximo, “ainda não disse tudo” e não
abandonará o poder tão cedo.
“Angola vive um período decisivo, há uma transição de pessoas, depois se
saberá se será uma transição de regime”, afirmou em declarações à Agência
Lusa, Barceló de Carvalho, ou Bonga, o seu nome artístico.
O músico, que se junta a Paulo Flores num concerto em Lisboa no próximo
sábado, disse que “o senhor José Eduardo dos Santos ainda não disse tudo.
Ainda tem uma na manga, que vai sair quando ele precisar”, e que “continua a
ser o patrão máximo de Angola, até provar o contrário”.
Também Paulo Flores disse que “nada muda de um dia para o outro” e admite ser
“cético” em relação a uma “renovação imediata”.
“É importante sabermos nestas eleições o que é um facto, o que são promessas
e o que tem a ver com as eleições”, disse o músico à Lusa, para quem “a forma
como os cidadãos vão escolher ou ter a possibilidade de participar nas
eleições já vai indicar até que ponto essa mudança está em curso”.
“O poder em Angola está bem montado”, disse Bonga, considerando: “os filhos
[de José Eduardo dos Santos] têm a banca, e principalmente os comparsas… Ele
tem muitos comparsas, incluindo no estrangeiro, e são esses que fazem
movimentar o capital que lhe dá força e poder”.
Ainda que João Lourenço venha a chegar à presidência angolana pelo MPLA,
Barceló disse acreditar que, “depois das eleições em Agosto, a situação em
Angola será a do ‘vira o disco e toca o mesmo’, com muitos falsos amigos a
darem força àquele poder, porque ganham dinheiro com isso”.
“Gostava de dizer a todas as pessoas com o olho em Angola ou com o verbo
virado para Angola, que sejam coerentes consigo próprias, e exijam a
democracia que praticam nas suas terras de origem”, apela o músico angolano.
“Estou a falar de Portugal, da França, dos Estados Unidos, da Holanda, do
Brasil e de outros países que contactam com Angola, que têm interesses em
Angola. As democracias antigas não deviam pactuar com estes regimes, deviam
impor condições” para a cooperação, acrescentou.
Paulo Flores reconheceu que o país africano “vive uma época muito sensível”,
mas manifestou uma expectativa diferente em relação ao futuro de Angola.
“Tenho alguma esperança na maturidade da consciência política dos cidadãos
angolanos de hoje. Vejo uma vontade muito maior de fazerem parte”, afirmou o
músico.
Para Paulo, a manifestação das mulheres contra a criminalização do aborto no
passado dia 18 – a primeira em muito tempo contra uma posição do partido
maioritário que escapou à repressão policial – é um sinal dessa ”clara
vontade dos cidadãos participarem, de darem a opinião, e de trabalharem para
um futuro melhor”.
“Agora, nada muda de um dia para o outro. Por isso, talvez seja um pouco mais
cético em relação a essa renovação imediata”, disse.
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