Dos Santos foi incompetente na criação de símbolos angolanos - William Tonet
Luanda
- A guerra da intolerância não tem como parar, tão pouco um líder
capaz de erguer a sua voz apaziguadora, para frenar os ânimos dos mais
empolgados numa clara agenda de espevitar a confrontação contra todos,
quantos teimam em olhar e acreditar ser ainda possível ver implantada a
democracia, para se construir uma sociedade harmoniosa com base no
respeito pela diferença.
Fonte: Folha8
Em 33 anos de poder
O
silêncio cúmplice do Presidente do MPLA e da República, em relação ao
mais recente incidente, que opôs militantes da UNITA aos do MPLA/Polícia
Nacional e Administração do Estado, no Bié, tal como o assassinato
bárbaro e cruel de Hibert Ganga, por um militar da Unidade da Guarda
Presidencial mostram a existência de um plano secreto.
Angola desde 1975, sempre foi maltratada
por atitudes e políticas musculadas, umas mais visíveis, outras mais
sub-reptícias mas sempre desembocando no mesmo ralo da intolerância,
que, desgraçadamente, nos levaram à duas guerras fratricidas,
pós-independência. Quem sabe essa continuidade irresponsavelmente
responsável, da intolerância política não esteja a lançar as sementes da
Terceira Guerra.
Infelizmente, os intolerantes, os
anti-democratas são muitos e campeiam por todas as instituições do
Estado, tristemente partidarizadas, por quem privatizou o poder,
primeiro como proletário, inspirado “num Tomo”, mal lido e interpretado
de Karl Marx e Lenine, tanto que no dobrar da primeira esquina, se
tornaram em proprietários vorazes, que passaram a roubar aos pobres
proletários, para dar aos novos ricos.
Eu confesso, com o caminhar desta
jornada, que me levou a atravessar campos de espinhos, passar fome de
liberdade e justiça, palestrar e mobilizar “camaradas” sobre os grandes
ideólogos comunistas, que pugnavam pelo “proletários ao poder”, como
premissa para uma sociedade mais justa e humana, estar desapontado, por
termos sido traídos.
Eles não eram, nem são, dirigentes de
ruptura, mas se parecem como de continuidade, ao ponto de uma grande
maioria, se ter convertido em neocolonialistas. Prenderam e mataram
cidadãos que tinham notas de 1 dólar, hoje exibem relógios de 50 a 100
mil dólares e mansões de 25 milhões de dólares...
O Presidente do MPLA, tem sido
incompetente, por não saber liderar uma verdadeira onda de cidadania
despartidarizada, ao longo de 33 anos de consulado e quando assim é,
Angola vê emergir, não um líder clarividente, mas a propagação do culto
de personalidade de um homem, que se vai tornando, voluntária ou
involuntariamente um verdadeiro ditador.
Dos Santos, sem dinheiro do crude,
aliciador, domesticador e corruptor de consciências, está longe de
chegar aos calcanhares de Nelson Mandela ou Julius Nyerere, líderes que
foram capazes de transformar os seus territórios em projectos países,
com políticas verdadeiras de unidade e reconciliação nacional,
respeitando as diferenças ideológicas.
Na África do Sul, Mandela não se opôs à criação de uma Comissão da Verdade.
Não impôs a sua imagem na moeda nacional.
Não gastou mais de 25 milhões de dólares, para alterar os Bilhetes de Identidade de Cidadão Nacional e colocar a sua imagem.
Mandela nunca impôs o culto de personalidade, transformando o seu aniversário em dia nacional.
Um verdadeiro líder democrata, não
privatiza a Comunicação Social Pública. Mandela demonstrou isso, tal
como afastou a partidarização das instituições do Estado, mesmo tendo o
ANC, seu partido, a maioria parlamentar.
Mandela criou uma bandeira nacional
distante das cores do ANC, que orgulha os cidadãos e partidos políticos.
Fez o mesmo quanto aos símbolos.
Mandela criou um hino nacional, sem
carga ideológica, inspirado nas raízes africanas e não tinha vergonha
das línguas sul africanas, colocando-as na Constituição, com base na
diversidade do campo glotológico, tendo como línguas oficiais o Sepedi,
Sesotho, Setswana, Siswati, Tshivenda, Xitsonga, Afrikaans, Inglês,
Isindebele, Isixhhosa e Isizulu. Reconhecendo ainda a mitigação
histórica no uso de várias línguas autóctones, determinando que o Estado
tome medidas no sentido de proporcionar a retomada do uso, manutenção e
desenvolvimento dessas várias falas, através dos governos federal e
provinciais que devem utilizar as muitas línguas, no contexto em que
elas têm maior expressividade e poder de comunicação.
Mandela não se colocou como
neoapartheid, quanto à propriedade da terra, pelo contrário, deu
relevância à propriedade, textualizando constitucionalmente, “que
ninguém poderá ser privado da propriedade, excepto em termos de lei que
tenha aplicação geral. A lei não poderá permitir apropriação arbitrária
da propriedade. Lei de âmbito geral que defina perda de propriedade
deve atender a interesse público. Deve também submeter o Estado a
pagamento de compensação justa, que atenda ao equilíbrio entre o
interesse público e o do particular.
Em Angola existe alguma semelhança, com o atrás descrito?
Responder para quê, cada leitor tirará
as ilações devidas e neste quesito, até os mais ferrenhos bajuladores de
Eduardo, nunca se orgulharão em ver um símbolo criado pelo seu regime,
perpetuar-se no tempo… Seguirão o mesmo caminho do Muro de Berlim, da
estátua de Saddam Hussein, Kadhaffi, entre outros.
Tudo isso leva-me com frustração e
tristeza a não acreditar na capacidade de Eduardo dos Santos alterar o
quadro actual do país, pelo contrário, tem estado a tornar-se num factor
de instabilidade, cuja política discriminatória e de culto de
personalidade, ameaçam a democracia e a consolidação de uma verdadeira
paz.
Não acredito nesta “jessiana democracia
do chicote”, polida com ditadura e corrupção institucional, por duvidar
que ela vingue, por muito mais tempo, pelo contrário, vai levar-nos, à
médio prazo, ao abismo e a explosão social descontrolada.