Deputados da UNITA impedidos de chegar a montanha do Sumi
Declarações do Deputado Raul Danda na tarde desta sexta-feira, a partir da Caala.
“Nós viemos na manhã de hoje aqui a Caala para podermos compreender como é que está a situação, falarmos com o administrador municipal e irmos até ao local onde as coisas terão acontecido. No monte Sumi, depois também vermos algumas aldeias onde há relatos, por parte das populações, segundo as quais terão sido mortos civis. Nós terminamos o encontro pouco depois das 13 horas e agora quando são 16 horas e quase 30 minutos, portanto, 3 horas depois, nós ficamos à espera que o senhor administrador municipal pudesse entrar em contacto com o governo provincial para saber se nós teríamos ou não autorização para irmos até ao local.
Achamos estranho porque, não é por ser Deputado, mas qualquer cidadão não precisaria de autorização para ir a este ou aquele local. Há livre circulação de cidadãos. Mas a verdade que tem que ser realçada é que, se por um lado, está ser impedido aos Deputados do Grupo Parlamentar da UNITA irem para o local, também o governo provincial do Huambo diz descartar-se de toda responsabilidade, relativamente à qualquer coisa que possa ocorrer, caso os Deputados insistam em ir para lá.
Ontem o senhor governador provincial garantiu que nós teríamos livre acesso, para irmos onde quiséssemos. O senhor governador Kundi Paihama disse, inclusive, que ser-nos-iam dadas forças para poderem nos acompanhar, por uma questão de garantir segurança aos deputados. Nós, desde logo vimos que há qualquer coisa que não está bem. É que se por um lado, há relatos de que apenas morreram 13 civis, por outro lado, nós temos estado a recolher relatos por partes das populações, por parte de algumas pessoas que conseguiram escapar do massacre, porque houve de facto o massacre e este comportamento prova ter havido o massacre e sabíamos que havia impedimentos.
Hoje de manhã nós falamos com o senhor procurador provincial do Huambo para podermos ter acesso, conversamos, visitarmos e conversamos um bocadinho com o senhor Kalupeteka. O senhor procurador disse me a mim, ao telefone que o senhor Kalupeteka estava preso aqui no Huambo e que podia receber a visita de familiares próximos, mas que a ideia, a vontade, a intenção dos Deputados de visitar o senhor Kalupeteka, se podiam concretizar em momento posterior sem dizer quando. Porque é que os Deputados não podem falar com ele? A gente sabe que o senhor Kalupeteka, antes de ser julgado, antes de ser condenado por um tribunal, por um juíz tem de haver presunção de inocência.
Depois dessas histórias contraditórias que foram sendo contadas, depois de ouvirmos que havia um arsenal, por parte dos civis e dos seguidores do senhor Kalupeteka e de termos ouvido, primeiro da boca do senhor secretário do estado Laborinho que havia afinal três armas, depois de ouvirmos hoje, esta manhã, da boca do senhor administrador municipal aqui da Caala, que também havia só três armas, não sei se isso pode se chamar um arsenal. Estão a considerar material bélico, paus, e etc, etc, o que nos parece um bocadinho absurdo.
Depois de termos ouvido dizer que havia digamos, fogo intenso contra uma força grande, de algumas centenas de membro da polícia anti-motim, da polícia anti-terror, e inclusive de efectivos das forças armadas angolanas que ainda estão no local, porque o senhor administrador acabou por nos convencer que estão lá naquela área.
Razão pela qual está a nos ser dito que é uma área militar, estão lá militares e não podíamos ir para lá.
Já havíamos tidos informações ontem de manhã à nossa chegada e que de facto aqui havia intenção de mandar militares vindos do Ngove para aquela localidade para transformar aquilo numa localidade militar, numa área militar e impedir acesso inclusive aos deputados e outras pessoas para lá. Também ontem sem termos levantado esta questão, o próprio governador provincial, disse-nos que o governo estava a pensar na possibilidade de levar para lá uma unidade militar e segundo ele, para impedir que os seguidores do senhor Kalupeteka voltassem para aquele local. Portanto, foi um cenário montado.
Nós já sabíamos de ante-mão que iriam fazer tudo mas absolutamente tudo, para impedi os deputados de irem para lá.
Nós tivemos informações prestadas por alguns elementos da polícia anti-motim que lá esteve, a dizer que de facto, houve uma chacina. Nós sabemos, inclusive haver um oficial desta polícia que terá desmaiado face a barbaridade cometida. E se por um lado, nós condenamos com toda veemência a barbaridade cometida contra os polícias, contra o senhor comandante municipal da polícia, aqui da Caala, mais os outros polícias, também condenamos na mesma medida, o massacre bárbaro perpetrado. Os relatos que temos apontam que a polícia chegou lá e as forças foram matando pessoas a catanada.
É informação que temos e nós achamos que, porque quem não deve não teme, o governo deveria proporcionar formas de nós chegarmos ao local e fazermos as constatações.
Nós estamos a ver porque que o senhor governador Kundy Paihama diz podem ir e há ordens superiores que nos foram transmitidas agora pelo administrador municipal aqui da Caala recebidas segundo ele, do senhor vice-governador, Joaquim Quito, de que nós não podíamos ir.
Aliás no diálogo que fizemos esta manhã com o senhor administrador municipal, ele já tinha dito que iria ver se nós tínhamos autorização ou não para poder ir para lá. E eu perguntei se de facto um cidadão qualquer, não importa se é deputado, se é outra coisa precisava de uma autorização para ir para algum sítio. Ele tentou recuar mas o termo é este, e prova disso é que de facto, não nos deixam ir para lá. Nós portanto, além desta conversa que estamos a ter as outras gentes vamos fazer uma fazer uma conferência de imprensa amanhã. Nós daqui vamos voltar à cidade do Huambo.
Vamos voltar a contactar o senhor procurador provincial que nos disse que, pessoalmente é que nos diria o porque da rejeição de nós visitarmos o senhor Kalupeteka, e depois disso provavelmente, estarão a encarar as mesmas hipócritas ordens superiores que depois impedem Angola de marchar.
Devo também realçar aqui que tem havido uma acusação de envolvimento de algum modo da UNITA. E eu devo dizer que o senhor administrador municipal da Caala voltou a falar do assunto. E nós recordamos algumas coisas e uma delas é que todo cidadão angolano em qualquer parte do país tem liberdade total que lhe dá a Constituição de aderir a qualquer partido político que queira. E também não é por via disso que o cidadão, na eventualidade de cometer um crime, tem que ser julgado em função do partido a que pertence. Porque se não nós não sabemos se o MPLA hoje podia ter moral para estar fora da cadeia; Porquê? Porque nós sabemos que há membros do MPLA, que se apropriam do erário público. Nós sabemos que há membros do MPLA que fazem assaltos, que fazem isso e aquilo. Ora, se as pessoas todas que assaltam, todas as pessoas que assaltam e que tenham um cartão de membro de um partido, seriam os seus partidos a ser condenados? Eu não sei o que é que seria. Para além do facto de que, sobretudo esta província do Huambo já nos habituou a que se descobrissem paióis de armas que depois acabam por ser paióis mentiras. Acabamos por perder arsenais que depois não há nada. As informações que nós temos é que de facto, eles tinham duas caçadeiras devidamente legalizadas e que por causa dos acontecimentos de Benguela, fizeram com que eles entregassem à polícia municipal aqui da Caala, as duas caçadeiras. Entregaram. Pelo que não tinham arma nenhuma. E então há essas situações que depois se levantam. E julgo que não é difícil pegar numa bandeira da UNITA e fazer num sítio qualquer. Para além do facto de que se o senhor Kalupeteka é o homem do MPLA, porque o passado todo do senhor Kalupeteka não tem nenhuma ligação à UNITA, mas tem toda ligação ao MPLA, à membro da Organização de Defesa Popular (ODP) e Organização de Defesa Civil (ODC)”