Prezados compatriotas:
Estamos num momento decisivo da nossa história. Momentos decisivos da história são aqueles em que o país poderia ter seguido um rumo diverso do escolhido.
Angola já viveu três desses momentos. O primeiro foi em 1975, quando Portugal assinou os Acordos de Alvor com representantes do povo angolano, na sequência da revolução portuguesa dirigida pelo Movimento das Forças Formadas. Naquele momento histórico, a decisão tomada foi considerar representantes do povo angolano apenas os movimentos armados de libertação nacional - FNLA, MPLA e UNITA - e estabelecer uma data para a independência política de Angola, mesmo sem a garantia da existência prévia de uma assembleia constituinte, um exército angolano único, uma cultura de tolerância e de um projecto vinculativo de construção da Nação.
O segundo momento histórico foi em 1991, quando o Governo do MPLA e a UNITA assinaram em Bicesse, Portugal, os Acordos de Paz Para Angola. Naquele momento histórico o rumo seguido foi priorizar o cessar-fogo e organizar eleições no espaço de um ano, mesmo perante a existência de dois exércitos convencionais rivais, duas jurisdições territoriais, duas realidades económicas e sociais e duas administrações político-militares.
O terceiro momento histórico foi em 2002, quando se assinou o segundo Anexo dos Acordos de Bicesse, o Memorando de Entendimento do Luena. A decisão tomada foi considerar o advento da paz vitória militar do MPLA e ignorar os compromissos da democracia e da reconciliação assumidos em Bicesse, consolidando assim a hegemonia política, económica e cultural preconizadas pelo MPLA em 1975. Continuou adiado para muitos a concretização efectiva do sonho da independência e do projecto de construção da Nação.
Agora, ao terminarmos o mandato outorgado ao MPLA, havendo um conjunto de problemas mal resolvidos, estando o país mergulhado em crises estruturais e estando a maioria do soberano do Poder Político em Angola a demonstrar claramente a sua aspiração por uma mudança, pode estar sendo decidido um quarto momento histórico, no qual todos temos o dever e o direito de participar para o bem do nosso belo país.
A mudança histórica que se avizinha pode e deve ser feita sem revanchismos nem convulsões. Os que acumularam riqueza não precisam deixar o país porque ninguém os vai perseguir. Os agentes dos serviços de segurança não precisam temer o futuro, porque continuarão a ser servidores públicos do Estado ao serviço da Pátria. Os militantes do MPLA não precisam temer, porque a mudança que o voto da maioria vai trazer também os vai libertar. Vai libertar-nos a todos. Libertar-nos do medo, da crise e da intolerância. O novo presidente da República vai proteger-vos, porque será mesmo um presidente ao serviço de todos os angolanos.
A mudança histórica que o País reclama deve equacionar a gestão dos passivos resultantes do processo de delapidação da identidade angolana, dos abusos da soberania, dos direitos humanos e das injustiças políticas, económicas e sociais; os princípios para a reforma do Estado e para a reestruturação da economia nos marcos de um novo poder constituinte que o povo soberano de Angola deve ser convocado a exercer rumo à construção de uma nova nação, uma verdadeira República.
Defendemos para Angola uma solução republicana e democrática porque acreditamos que só a democracia – a mais autêntica e participativa que conseguirmos construir – poderá libertar-nos do nosso passado, dos nossos temores, das nossas incertezas e indecisões. Só ela nos permitirá fruir os frutos da prosperidade, da reconciliação e do progresso num ambiente de respeito mútuo, de liberdade, confiança e estabilidade. Só ela nos permitirá afirmar Angola como país africano de dimensão atlântica.
No plano internacional, consideramos que a defesa da independência nacional e dos valores da liberdade, igualdade, justiça e prosperidade intrínsecos ao pensamento liberal humanista e à civilização ocidental devem continuar a orientar as nossas posições políticas nas relações internacionais. Angola deve afirmar-se como boa cidadã do mundo, deve continuar a estabelecer e desenvolver relações de amizade e cooperação com todos os estados e povos do mundo, em especial com o bloco de nações, n baluarte da defesa dos direitos humanos, da liberdade dos povos e da paz mundial.
Aproveito esta oportunidade para apresentar, em meu nome pessoal e de todos os membros da UNITA, as nossas condolências aos familiares das vítimas do acidente de Benguela.
Muito obrigado. |