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domingo, 3 de junio de 2018

27 anos depois dos Acordos de Bicesse o desafio da reinserção social mantém-se

27 anos depois dos Acordos de Bicesse o desafio da reinserção social mantém-se
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Os angolanos celebraram neste dia 31 de Maio de 2018, o 27º aniversário da assinatura dos Acordos de Bicesse, entre o então governo da República Popular de Angola (RPA) representado pelo Eng. José Eduardo dos Santos e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), representada pelo Dr. Jonas Malheiro Savimbi.
Em Luanda, militantes e simpatizantes da UNITA estiveram reunidos no Complexo Sovsmo, em Viana para reflectir sobre o acontecimento político, que contribuiu para o fim da guerra e para instauração do Estado democrático em Angola.
Mátires Corrêa Victor “Kavula Ndunge”, um dos sobreviventes da delegação negocial da UNITA que participou da árdua tarefa de trazer a paz entre os angolanos, falou aos presentes sobre os meandros que nortearam o caminho da paz e recordou com um misto de nostalgia e tristeza os passos que seguiram aos Acordos de Bicesse e às eleições de Setembro de 1992, nomeadamente o assassinato, em Luanda, dos dirigentes e negociadores da UNITA.
“Reflectir os Acordos de Bicesse, assinados num dia como hoje, 31 de Maio no longínquo ano de 1991, exige dizer que não é tarefa fácil, tal é a sua complexidade, história e envergadura”, reconheceu o dirigente, recordando que para se atingir Bicesse houve um longo caminho a parcorrer, que teve o seu começo em Abril de 1990, em Évora-Portugal, quando se realizou a primeira reunião entre o Governo da República Popular de Angola e a UNITA, sob os auspícios dos EUA, URSS e Portugal.
Depois de mencionar os nomes de quadros que integravam as delegações do MPLA e da UNITA, Mártires Corrêa Victor indicou os factores que ocasionaram a ocorrência dos Acordos de Bicesse, precisando que internamente, depois de uma guerra colonial que durou 14 anos e no auge da guerra civil pós-colonial que já levava 16 anos, impunha-se uma vontade férrea para também se pôr fim a esta.
“Este contexto e razões, pessoalmente liderados pelo Presidente Dr. Jonas Savimbi, levaram a que sem hesitar, ele tomasse a decisão de enviar os seus negociadores para obter a paz tão almejada, para o nosso país”, afirmou Kavula Ndunge.
Olhando para a situação externa daquela época, o dirigente apontou o derrube do muro de Berlin que separava a Alemanha Federal e a Alemanha de Leste e o fim do sistema socialista soviético de ideologia comunista como factores que também concorriam para o fim da guerra em Angola por via das negociações.
“Esta mudança pões fim á guerra fria e faz com que a estratégia dos Estados Unidos da Amérca para Africa Austral, já titubeante, se torne mais confusa, obrigando aquela superpotência a acenar, de forma gradativa, ao MPLA e como tal, procurar reduzir o apoio à UNITA, como veio a acontecer mais tarde”, recordou.
Ainda na senda da história, o palestrante recordou que as discussões entre as delegações angolanas para a busca da paz tiveram lugar na Escola de Hotelaria, em Bicesse e eram muito sérias e desde o princípio muito azedas, devido os traumasda guerra vivenciados pelas delegações. Destacou, entretanto, o oportuno papel desempenhado pela mediação e a troika na resolução pontual dos impasses e bloqueios que eram recorrentes naquele ambiente negocial.
“Todavia, quando as duas delegações angolanas se familiarizaram, verificou-se uma melhor compreensão da responsabilidade que tinham e se impunha sobre os seus ombros”, reconheceu o palestrante, que recorda que o assunto relativo aos ex-militares e às populações que viviam nas zonas administradas pela UNITA, uma vez regressados para as cidades foi o que mais tempo consumiu a sua discussão.
Olhando para o drama que envolve no dia de hoje os ex-militares das FALA, sem conlusão do processo da sua reinserção social, o também general na reforma Kavula Ndunge conclui que o governo do MPLA está a agir de acordo com a relutância e reserva manifestadas pelos seus negociadores em Bicesse, há 27 anos atrás.
Kavula Ndunge prestou tributo aos negociadores, pela lisura, camaradagem e dedicação.
“No fim de tudo o que a memória permite com a idade que tenho, quero dizer que escrevi e falo sem desfarce o que pensei, da forma como o vivenciei, senti e responsavelmente assumo, para que a história seja honrada e as novas gerações prossigam este interessante contributo para a consolidação”, concluiu Mártires Corrêa Victor.



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