Ministro alemão propõe fim da exportação de armas para países como Angola
- Categoria Além-fronteiras
- 30 julho 2014
Alemanha
- O ministro da Economia e vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, quer
travar a exportação de armas para países que não pertençam à União
Europeia e à NATO. Vender barcos patrulha a Angola já não seria uma
opção no futuro.
Fonte: DW
A
exportação de armamento é um negócio importante no país da chanceler
Angela Merkel. A faturação anual das vendas ao exterior ronda os seis
mil milhões de euros. Mas em Berlim pondera-se agora proibir qualquer
fornecimento de armas a países que não pertençam à União Europeia (UE) e
à Organização do Tratado do Atlântico Norte, NATO. Limitar a venda de
armas a países da UE e da NATO impediria que elas acabassem por chegar a
países que não cumprem os critérios democráticos e de respeito dos
direitos humanos exigidos pela Alemanha. É claramente, por exemplo, o
caso de Angola.
Este país não é dos
clientes mais assíduos da indústria de armamento alemã, recebendo
sobretudo material para a desminagem. No entanto, recentemente,
manifestara algum interesse em adquirir barcos de patrulha da Alemanha,
no que fora encorajado pelo Governo de Berlim. O negócio acabou por não
se realizar, mas, de futuro, segundo a vontade do ministro Sigmar
Gabriel, ele nem sequer seria uma hipótese.
"Não
podemos exportar armas nenhumas para esses países, a não ser que
interesses de segurança especiais da Alemanha nos permitam abrir uma
exceção", disse o ministro social-democrata da Economia.
Esta
seria uma mudança radical na política de exportação de armamento de
Berlim. Em 2013, 60% das vendas externas destinaram-se a países fora da
Aliança Atlântica e da União Europeia, como a Arábia Saudita, a Argélia e
a Indonésia. Isto, apesar da lei alemã proibir a exportação para zonas
de crise ou Governos que possam usar as armas para oprimir a população.
Sequelas económicas nefastas?
Evidentemente,
os planos do ministro não são universalmente bem aceites na Alemanha. A
indústria do armamento vê os seus interesses lesados. Alguns analistas
vêem possíveis consequências nefastas para a economia germânica.
"Na
Alemanha, há entre 80 000 a 100 000 postos de trabalho diretamente
dependentes desta indústria, entre os quais muitos que exigem
profissionais de alta tecnologia muito especializados", comenta o perito
em matéria de armamento, Thomas Wiegold. "Não se pode dizer ao certo
quantos desses postos de trabalho desapareceriam caso as regras de
exportação fossem agravadas."
O
ministro Gabriel tem que contar também com a resistência dentro da
coligação governamental com a União Cristã-Democrata da chanceler Merkel
(CDU) e a União Cristã-Social (CSU), o partido-irmão bávaro.
O
ministro-presidente da Baviera e chefe da CSU, Horst Seehofer, já
protestou contra os planos do seu colega no Governo. É na Baviera, de
resto, que se encontram algumas das maiores fábricas de armamento na
Alemanha.
O ministro Gabriel não
pretende abandonar a indústria à sua sorte. Prova disso é a proposta que
fez recentemente de que fossem prestadas ajudas a fabricantes de
armamento europeias que tenham de renunciar a fornecimentos por causa de
sanções impostas pela política a países terceiros.
Gabriel não deixou de criticar os parceiros franceses por insistirem em fornecer armamento à Rússia, apesar das sanções em vigor por causa da atuação de Moscovo no conflito na Ucrânia.
"A
exportação de armamento não pode ser um instrumento da política
económica. Deve ser um instrumento da política externa e de segurança. E
se não tivermos muito cuidado, depressa se transforma num negócio com a
morte", afirmou o ministro social-democrata.