MPLA infiltra-se na Universidade Católica
- 31 julho 2014
Luanda
- A Faculdade de Direito da Universidade Católica de Angola, tem sido
nos últimos dias palco de acções de política partidária, protagonizadas
por elementos ligados ao MPLA e que estudam naquela instituição de
ensino superior da Igreja Católica em Angola.
Fonte: Club-k.net
Considerada
no seio dos “Ucanianos” espelho da Universidade Católica de Angola
(UCAN), uma das melhores, senão mesmo a melhor Universidades de Angola, a
Faculdade de Direito daquela oficina do saber é uma referência no País,
pelo menos no que a formação de juristas diz respeito, tendo apenas a
de Agostinho Neto como concorrente directo.
Há 16 anos no mercado do saber, a faculdade em referência já contou em grande número com quadro docente maioritariamente vindo de Portugal, e, ainda conta com alguns, embora em número reduzido.
A
par disso, e dentro da política de angolanização das instituições que
operam no País, independentemente da sua origem e tutela, a UCAN começou
a inserir paulatinamente no seu quadro docente professores nacionais,
e, para formação de juristas àquela instituição recorreu à quadros
nacionais competentes (in) felizmente, quase todos ligados ao Partido no
poder. Entre os professores constam Bornito de Sousa (Direito
Constitucional, 1o ano), França Van-Dúnem (História das Ideias Políticas
e Direito Internacional1o e 2o anos respectivamente), Carlos Feijó
(Direito Administrativo 3o ano), Edeltrudes Costa (Direito do Comercio Internacional
5o), Sebastião Isata (Direito de Cooperação e Integração em África e
Direito Internacional Privado 4o e 5o anos respectivamente), Adérito
Correia (Decano e professor de Direito Constitucional 1o ano), Adão
Avelino (Ética e Direito e Filosofia do Direito 4o e 5o anos), todos
eles membros de proa do MPLA e que suportaram àquela faculdade durante
os seus primeiros dez anos.
Numa
certa altura, a Universidade Católica de Angola começou a implementar um
plano de renovação do seu quadro docente, o que originou o envio a
Portugal de Jovens formados por si e com aproveitamento em termos de
notas acima da média, para frequentar Cursos de Mestrados. São os casos
dos agora Mestres, Benja Satula, Edgar Quissongue, Celestino Kemba,
Márcia Nijolela, Beth Sabé e outros, ligados à Faculdade de Direito de
Economia, Gestão e Engenharia. Edgar Quissongue e Celestino Kemba,
chamados entre
os estudantes e comunidade académica daquela Faculdade, por
“Kussanguluka”, tendo em atenção ao modelo de avaliação implementado.
Na
sequência da linhagem dos quadros ao Partido governante, Edgar
Quissongue foi colocado no Tribunal Constitucional enquanto Celestino
Kemba parou no Ministérios dos Assuntos Parlamentares, onde ocupa cargo
de direcção, empregos, que segundo fontes próximas aos mesmos,
conseguiram graças a sua proximidade com
seus antigos Professores, nomeadamente França Van-Dúnem, Carlos Feijó,
Bornito de Sousa e Luter Rascova, este último amigo próximo com quem
partilham até hoje momentos
íntimos e de lazer. O quarteto, incluindo Rascova, Professor na mesma
Faculdade, criou um grupo espécie de Comité de especialidade dos
Estudantes/UCAN que trabalha na mobilização antes, durante e depois das
aulas, nos corredores, salas etc.
Para
melhor desenvolver tal estratégia, o grupo Kussanguluka, mais Rascova,
contam com alguns Estudantes do Curso de direito que funcionam como
activistas, mobilizadores, e, que criaram desta feita o Núcleo dos
Estudantes do MPLA da UCAN, onde se destacam Jovens como Seidy dos
Santos, já licenciado, mas que continua com a missão de mobilizar porque
é agora Professor assistente do outro assistente de Direito Fiscal,
Edgar Quissongue, na cadeira de Direito Fiscal cuja regente é a Dra.
Alexandre que nos últimos tempos coadjuva o Decano da Faculdade de
Direito/UCAN.
Acrescenta-se ainda a
estes, o jovem Candeeiro, estudante do 5o ano, funcionário da Rádio
Nacional de Angola. Candeeiro beneficia por isso, uma bolsa de estudo
oferecida pelo Ministério da Comunicação Social durante o tempo da sua
formação, preservando para o efeito os respectivos salário, e outros que cuidam das fichas de inscrição e que estudam no período da manhã ou diurno.
O
Núcleo dos Estudantes da UCAN do MPLA, já realiza reuniões dentro das
instalações da Universidade Católica de Angola, sita no Bairro Palanca,
em Luanda, e neste momento decorre um intenso trabalho de mobilização
precisamente aos estudantes finalistas, isto é, estudantes do 4o e 5o
anos do Curso de Direito dos dois
períodos, diurno e pós-laboral. A fonte contactada pelo Club-K avançou
que “o trabalho é do conhecimento do decano da Faculdade, Adérito
Correia, que não pode proibir, pois o mesmo é militante sénior do MPLA”,
concluiu.
Questionado se a
Reitoria domina o caso, a fonte que temos vindo a seguir, não precisou o
dado, mas, acredita que “alguns responsáveis da UCAN saibam porque o
núcleo que há algum tempo funcionava somente na Faculdade de Direito
está agora a expandir-se para outras Faculdades.
A
fonte prossegue dizendo que o grupo ganha visibilidade diante de uma
Igreja, Católica, seu patrono, comprometida, grosso modo, com Partido
governante, fazendo dela o que se fez com a Rádio Eclésia, que nos
últimos tempos se assemelha à Radio Nacional de Angola em termos de
abordagem de certos assuntos noticiosos. “Não se pode admirar com este
posicionamento da própria Igreja porque ela já nos habituou isso. Foi a
Igreja quem em momentos de colonização de Angola, senão mesmo de África, esteve ao lado do colonialista para melhor explorar o Homem Negro.
Por
isso, se há ou não consentimento da Igreja isso importa pouco porque o
seu percurso é mesmo de estar ao lado dos políticos”. Rebatou a jovem,
visivelmente saturada com a história. A entrada em cena dos três
Professores jovens, formados pela própria Universidade e que hoje são
advogados e militantes do MPLA, preocupa os mais atentos que entendem
que a Universidade Católica, tendo em atenção ao seu objecto social,
deveria ser um local onde se fizesse exclusivamente ciência e não
política partidária. “Há Professores na Faculdade de direito que exibem
carros atribuídos pelo Partido, como forma
de persuadir os estudantes. Exibem em plena sala de aulas, cartões de
militante nos bolsos, e, isto é perigoso”, lamenta a fonte. O Club-K
procurou saber se estas reclamações já chegaram à Reitoria e aos
promotores do núcleo, a fonte diz não ser possível porque pode ser
conotada e por isso mesmo envelhecer na UCAN. “Não podemos fazer isto.
Não há aqui alguém capaz de dizer isto, porque estes
senhores são diabos”. Temos aqui estudantes que há mais de cinco anos
para terminar o Curso não podem, não por não saberem, mas porque alguém
de abuso os mantem por cima das carteiras” acrescentou a fonte com
sorriso nos lábios. De lembrar que a Universidade Católica de Angola
existe há 15 anos e oferece Cursos de Direito, Psicologia, Sociologia,
Línguas, Engenharias, Economia, Gestão e outros. É a única que há três
anos constou da lista das melhores 100 Universidades de África, mas que
nas duas últimas edições do ranking não apareceu por causa do
empobrecimento do quadro docente que actualmente é constituído
maioritariamente por recém-licenciados e que procuram a todo custo ser
rigorosos onde não se pode do ponto de vista pedagógico e educacional.