General Numa apresenta versão da UNITA sobre Batalha do Kuito Kuanavale
- 24 abril 2014
Luanda
- Sob o lema “A contribuição da UNITA na construção da paz regional”, o
general Abilio Kamalata Numa, apresentou nesta quarta-feira (23), no
centro de Convenções de Talatona em Luanda, a versão do seu partido
sobre as principais batalhas militares ocorridas ao longo do conflito
armado com destaque as do Kuito Kuanavale.
Fonte: Club-k.net
- Caros convidados!
-Senhoras e senhores!
Bem-vindos
a este ciclo de reflexão como contribuição da UNITA a História recente
do nosso país, escrita com letras de ouro pela sua nobreza e
grandiosidade, mas também desentendimentos que nos levaram a conflitos
desnecessários.
Conhecemos o valor da
paz e sabemos que a nossa paz só serve se for destituída de egoísmos,
humilhações e inverdades. A paz real é aquela que aponta para a
liberdade e se abre para a democracia.
Esta
oportunidade está apontada para a clarificação dos factos que ajudaram a
mudar a geopolítica na Região Austral de África e bem como a
contribuição decisiva da UNITA para que tal desiderato se concretizasse.
Na
qualidade de antigo guerrilheiro e co-fundador das Forças Armadas
Angolanas-FAA, junto com o General João Baptista de Matos, estou bem
colocado para falar das grandes Batalhas que foram decisivas em mudar a
estratégia expansionista da URSS e determinaram o curso negocial para a
independência da Namíbia, a libertação de Mandela, a democratização da
África do Sul, a retirada das tropas cubanas e assessores russos de
Angola e negociações directas do governo de Angola com a UNITA.
Vejamos
os momentos mais altos que definiram o processo da aplicação da
estratégia político-militar da UNITA, depois de obrigada a abandonar as
cidades a 8 de Fevereiro de 1976.
através de um estudo que passaremos a projectar.
Foi
fundamental a realização do IV Congresso da UNITA a 23 de Março de 1977
na Benda Província do Huambo há 80 quilómetros da sua capital, onde se
traçou a estratégia da Guerra Prolongada, reconfirmando as decisões da
Conferência do Kwanza que produziu o “Manifesto do Kwanza” no Sandona,
margem direita do rio Lungué-Bungu em Maio de 1976.
O
Estado-Maior Coronel Valdemar Pires Chindondo com a orientação do Alto
Comandante das FALA Dr. Jonas Malheiro Savimbi, lançou nessa altura o
laboratório de aplicação da estratégia decidida no IV Congresso juntando
ex-militares angolanos do exército português com instrutores formados
na Tanzânia e Zâmbia que resultou na formação da primeira unidade
semi-regular Comandante Samanjolo, peça importante na criação da
primeira Base Revolucionária de Apoio a sul da cidade do Kuito na
província do Bié e de onde partiram comandantes e unidades para áreas de
expansão e cadetes para treinos na Namíbia e outros países.
Em
1982, consolida-se a Base Revolucionária de Apoio Central com a capital
na Jamba. E neste ano realiza-se o V Congresso da UNITA aos 26 de Julho
que reavalia a estratégia da guerra Prolongada e decide a criação das
Frentes Estamos a Voltar e Frustração do Povo, decisiva na transposição
da guerra para as Província do Kwanza Norte, parte norte de Malanje,
Províncias de Luanda, Uige, Zaire e Cabinda.
Chegados
aqui, a Guerra pós-colonial passou a ter objectivos bem específicos,
com a UNITA a definir sua estratégia de forçar as negociações com o
governo sintetizada na palavra de ordem “Menongue ponto de partida,
Luanda ponto de chegada”, enquanto o governo passou a priorizar a
estratégia da retomada de Mavinga e destruir a Jamba e relançar sua
estratégia sintetizada na sua palavra de ordem de Angola trincheira
firme da revolução em África.
Estas
visões estratégicas foram as causas das grandes Batalhas que ocorreram
no Teatro Operacional do Kuito Kuanavale, Mavinga e Jamba, Nomeadamente a
Batalha “Saudemos o 2º Congresso” denominação dada pelas FAPLA e seus
aliados e Lomba 85 como resposta por parte das FALA que ocorreu entre
Junho e Dezembro de 1985, a Batalha “Saudemos Outubro” denominação dada
pelas FAPLA e Lomba 87 como resposta por parte das FALA que ocorreu
entre Junho de 1987 e Maio de 1988 e a Batalha Último Assalto
denominação dada pelas FAPLA e Lomba 89 como resposta por parte das FALA
que ocorreu entre Outubro de 1989 e Maio de 1990. Essa foi das únicas
Batalhas onde as FAPLA estiveram sem seus aliados.
Quanto
a dita Batalha do Kuito Kuanavale não passa de outro mito criado pelos
políticos, usando militares que não estiveram neste teatro de operações e
nem respeitaram aqueles que estiveram envolvidos directamente nos
combates do Lomba 87.
O que há é a
deturpação deliberada dos conceitos e dos factos que ocorreram, porque
em Junho de 1987 foram às tropas do governo com seus aliados russos e
cubanos que partiram em ofensiva para ocupação de Mavinga e destruição
da Jamba, essa ofensiva definiu em termos conceptuais o que é uma
Batalha que teve as suas fases de planeamento, execução do ataque,
marcha para o contacto, ataque, exploração do sucesso que não se fez por
parte das forças em ofensiva e bem como a perseguição que também não se
executou, porque dia 11 de Outubro de 1987, verificou-se a grande
reviravolta no Teatro das Operações com a destruição da 47ª Brigada na
nascente do rio Lomba e essa era força principal das FAPLA nesta
Batalha. Este facto está bem narrado no livro do coronel cubano Manuel
Rojas García em “Prisioneiros da UNITA nas terras do fim do mundo” nas
páginas 29, 30, 31, 32, 33 e 34.
Também a 9 de Novembro aconteceu a destruição da 16ª Brigada na nascente do rio Chambinga.
A
partir daí, as FALA e seus aliados passaram para a contra ofensiva
perseguindo as tropas do governo até a área dos rios Chambinga e Tumpo,
desgastando-as ao máximo para se prevenir de futuras ofensivas e ao
mesmo tempo em que se desenvolvia a estratégia de ataques em volta de
Luanda para se forçar as negociações. Só assim se percebe porque
passados dois anos as tropas do governo voltassem a última ofensiva
sobre a Jamba que intitularam de último Assalto.
Se
a 47ª Brigada foi destruída dia 11 de Outubro e a 16ª Brigada a 9 de
Novembro, onde o comando das FAPLA foi buscar as unidades para a dita
Batalha do Kuito Kuanavale que dizem ter iniciado a 15 de Novembro do
mesmo ano?
Foi nesta operação de
exploração da vitória e perseguição das tropas em debandada que as FALA e
seus aliados caíram no campo de minas colocadas por cubanos na área do
rio Tumpo dia 23 de Março de 1988 e com o resultado de destruição de
dois tanks. Nessa altura o comando de defesa do Kuito Kuanavale tinha
passado para os cubanos, através do general Oshoua e a 50ª Divisão
especial das FAR (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba) com
intervenção directa de Fidel de Castro a partir de Havana.
Os
verdadeiros militares sabem que quando se ganha numa operação os passos
seguintes são de exploração militar da vitória, perseguindo as tropas
derrotadas. Os generais que defendem a existência da Batalha do Kuito
Kuanavale que libertou a África, expliquem como exploraram esta vitória e
como perseguiram as tropas derrotadas. Expliquem porque não foram até a
Jamba e porque os governantes foram obrigados a negociar Bicesse quando
o objectivo da guerra era acabar com a UNITA? E se não foi este
objectivo expliquem porque a guerra durou 16 anos?
A
dita Batalha do Kuito Kuanavale é deturpação da História se for esta
perspectiva que está a ser ensinada nas nossas escolas militares então
está a prestar-se um mau serviço ao país.
No
livro “Border War 1966/1989” de Willems Steenkamp cita o general Oshoua
comandante das tropas cubanas em Angola que disse, ”Eu fui enviado para
uma guerra perdida, para em contrapartida ser condenado pela derrota”.
Numa
guerra, estrategicamente ganham-se políticas, só nas batalhas
operacionais e tácticas há vitórias militares, infelizmente há militares
e políticos que desconhecem esta contextualização político-estratégica
da guerra ser a continuação da política por meios violentos. Em Angola a
vitória do povo foi a conquista do Estado Democrático de Direito e não
do Regime da Ditadura do Proletariado e de Partido Único. Se a Jamba
tivesse sido tomada o curso da geopolítica na Região Austral de África
não teria conhecido o desfecho que vivemos hoje.
Angola
e os angolanos clamam por memoriais que os reconciliem e não os
monumentos que exaltam aliados estrangeiros contra seus compatriotas e
que nos dividem. Tenhamos a coragem de erigir um monumento em homenagem
aos combatentes pela luta anti-colonial e independência de Angola.
Muito obrigado!